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Desafio Literário

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Desafio Literário - Página 2 Empty Re: Desafio Literário

Mensagem por Barreto Sáb 31 Out 2009 - 11:31

Flávio de Souza escreveu:bounce bounce bounce
Meu amigo Barreto!

Que conto perturbador! Terrivelmente doloroso! Dá para imaginar a agonia da mãe, reencontrar o filho e logo em seguida descobrir que se tratava de um fantasma! Brilhante, meu caro, brilhante!

Um abraço,

Flávio
bounce bounce

Agradeço aos elogios do Flávio e do George. Realmente, todos nós estamos de parabéns. Creio que outros colegas ainda deixarão suas contribuições. Torço por isso.

Esses desafios/exercícios são bem interessante. Podemos "malhar" a mente para escrever estórias com direção definida. Nunca fui bom nisso. Minhas estórias sempre me conduziram. Recentemente, passei a conduzi-las. Estou achando deveras interessante.

Abraços
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 31 Out 2009 - 20:45

Barreto, tenho que reconhecer, os exercícios estão sendo decisivos para mim, um desafio que promove crescimento e vontade de experimentar narrativas, temas e focos diferenciados.

E também a parte de comentários é muito bacana, uma forma de ver como as pessoas leem nossas histórias, de pensar em mudanças, focos que não tinhamos percebidos. Quando escrevi o meu conto , por exemplo, a ideia era totalmente outra, não havia o lance do anel nem do corpo aprisionado no caixão, coisas que na verdade não são novas né, na lit fant, eu apenas queria escrever sobre a carta e a parte rabiscada na outra carta, depois já resolvi colocar o narrador em primeira pessoa, que não existia, tudo isso rapidinho, como o exercício pede. Engraçado que em nenhum momento pensei nos causos, que adoro, rs e quero muiito escrever algo do tipo, na verdade, pensavam em coisas como além da imaginação, lembram? E passou bem longe. Nossa, falei demais...

Que venham mais desafios pela frente, a LitFant agradece!!
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 31 Out 2009 - 20:56

Ah, e comentando o conto do Barreto, nossa, de fato, me deixou angustiada, primeiro por não conseguir identificar direito o "ponto de sombras", pensei na mulher, quando começa a dizer que vivia morta, depois no marido, pensei que o filho fosse algum mosntro que o pai escondeu da mãe por ser tenebroso demais, depois que fosse um ser que vinha se vingar do pai. .. ou um vampiro...

Nunca imaginei que fosse ele um fantasma.

Mas e esse pai que levou o filho para longe e volta so depois da morte dele? Isso acabou ficando mais forte na minha mente que o filho ser um fantasma. Deveras angustiante! Gostei, a literatura tem que ter este impacto no leitor.

Estamos todos mesmo de parabéns, e para o pessoal que ainda nao escreveu, temos até amanhã, ou até o próximo desafio.. bounce
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Mensagem por Tânia Souza Dom 15 Ago 2010 - 14:10

Uma expressão, um ditado popular, uma citação, frase ou palavra pode libertar-se do sentido comum e, em determinados momentos, tomar dimensões inspiradoras, deixando-nos inquietos, sugerindo histórias diversas.

O tópico Desafio Literário convida: vamos escrever contos a partir de temas sugeridos. O prazo para postarem os contos produzidos consiste em 15 dias a partir da data de postagem do desafio.


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Inspirações nefastas!

E o desafio é:

Agosto: mês de desgosto, mês de cachorro louco
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Mensagem por Edson Tomaz Dom 15 Ago 2010 - 22:45

Sexta-Feira, Treze de Agosto

Diz o velho ditado que desgraça pouca é bobagem. Aquela sexta-feira não fora mais "treze" porque não tinha espaço.Amanhecer o dia com dois pneus furados era demais! Perdeu a hora, chegou atrasado na própria apresentação, nem ele mesmo acreditou na própria história dos dois pneus furados. Perdeu a venda e perdeu o cliente. Não perdeu o emprego, mas com certeza, a promoção que estava certa pra este mês foi pro saco!

Teve um dia de cão. E como era agosto, só podia ser de cão bravo, cachorro louco. Porque passou o dia com todos os sacanas e carreiristas do escritório caindo na alma dele por conta da perda daquele cliente. Ficou surpreso de o faxineiro também não lhe ter vindo chutar a bunda!

Decidiu que merecia um relax depois de um dia daqueles e não teve dúvida. Seis da tarde, barzinho no térreo do prédio onde trabalhava, um chope, dois chopes, três chopes... De um em um, um porre completo. Foi quando a agenda do celular apitou, avisando que tinha um compromisso urgente: aniversário de casamento, comprar presente urgente pra esposa. Só que programara o alarme no horário errado, era pra ter tocado dez da manhã, não dez da noite. E até aquela hora ele não apenas ainda estava sem um presente, como ainda estava completamente bêbado. Já era ruim chegar em casa cheirando feito um gambá em dias normais. Imagina no aniversário de csasamento.

Pensou consigo mesmo: 'também, um cara que casa num dia treze de agosto, tá pedindo para se ferrar!". Riu da própria piada, pediu a conta e, claro, a maquininha não aceitou seu cartão. Nem o de débito, nem o de crédito. Só não ficou mais feio porque o dono do bar já o conhecia de longa data e quebrou o galho.

Agora, para completar, a bateria arriara. Esquecera o farol do carro aceso, nem percebera, de tão bravo que estava. E não tinha mais ninguém naquelas bandas. O bairro só tinha escritórios e uma favela enorme por trás dos prédios chiques. Olhou para todas as janelas. Nenhuma luz acesa nem no prédio onde trabalhava, nem nos outros próximos. O único imbecil ainda ali por perto era ele.

Olhou pro único ponto de táxi da região: nada. Todos os bêbados antes dele já haviam garantido seu caminho de volta.

Não tinha escolha. Tinha de subir umas seis quadras até uma avenida paralela, onde podia pegar o último ônibus. Olhou no relógio - onze e meia! Se não corresse, ia chegar em casa seis da manhã. Tudo bem que, de ônibus, ia chegar a uma da manhã, mas uma ainda é melhor que seis. Aliás, naquela altura do campeonato, já não devia ter mais esposa, mesmo. Só esperava que ela não soubesse da arma que ele guardava na gaveta das cuecas, senão corria o risco de chegar em casa e ir parar no cemitério.

Começou a cruzar as ruas desertas. Pelo menos, a luz da lua cheia ajudava a enxergar bem, se tivesse escuro, ia ser pior ainda prá cruzar aquele chão todo.

Mal tinha cruzado a segunda quadra quando percebeu a sombra do cachorro. Tomou um susto do caramba, quase infartou. Cara, a sombra era enorme, pensou ter visto um cachorro do tamanho de um homem. Mas era só a sombra se juntando com a manguaça... Imagina, cachorro daquele tamanho!

Aproximou-se mais, disposto a dar um pontapé no lulu que o assustara. Mas quando chegou realmente perto, percebeu que não era uma sombra...

----xxxx----

O legista e mais dois auxiliares já haviam gasto boa parte da manhã recolhendo os pedaços do sujeito. O que quer que tivesse atingido o cara, fizera um estrago enorme. Só podia ser uma bomba, um explosivo, algo devia ter feito um estrondo enorme para justificar um corpo tão despedaçado daquela forma.

Voltou-se para o delegado, que acabara de conversar com os guardas.

- E aí, alguém ouviu o estrondo?

- Ninguém falou nada sobre estrondo nenhum. A única coisa que alguns moradores da favela ouviram foi um cachorro muito chato que ficou uivando a noite toda...


----FIM----

Edson Tomaz

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Mensagem por Tânia Souza Sex 20 Ago 2010 - 17:59

Edson Tomaz escreveu:Sexta-Feira, Treze de Agosto

Diz o velho ditado que desgraça pouca é bobagem. Aquela sexta-feira não fora mais "treze" porque não tinha espaço.Amanhecer o dia com dois pneus furados era demais! Perdeu a hora, chegou atrasado na própria apresentação, nem ele mesmo acreditou na própria história dos dois pneus furados. Perdeu a venda e perdeu o cliente. Não perdeu o emprego, mas com certeza, a promoção que estava certa pra este mês foi pro saco!

Teve um dia de cão. E como era agosto, só podia ser de cão bravo, cachorro louco. Porque passou o dia com todos os sacanas e carreiristas do escritório caindo na alma dele por conta da perda daquele cliente. Ficou surpreso de o faxineiro também não lhe ter vindo chutar a bunda!

Decidiu que merecia um relax depois de um dia daqueles e não teve dúvida. Seis da tarde, barzinho no térreo do prédio onde trabalhava, um chope, dois chopes, três chopes... De um em um, um porre completo. Foi quando a agenda do celular apitou, avisando que tinha um compromisso urgente: aniversário de casamento, comprar presente urgente pra esposa. Só que programara o alarme no horário errado, era pra ter tocado dez da manhã, não dez da noite. E até aquela hora ele não apenas ainda estava sem um presente, como ainda estava completamente bêbado. Já era ruim chegar em casa cheirando feito um gambá em dias normais. Imagina no aniversário de csasamento.

Pensou consigo mesmo: 'também, um cara que casa num dia treze de agosto, tá pedindo para se ferrar!". Riu da própria piada, pediu a conta e, claro, a maquininha não aceitou seu cartão. Nem o de débito, nem o de crédito. Só não ficou mais feio porque o dono do bar já o conhecia de longa data e quebrou o galho.

Agora, para completar, a bateria arriara. Esquecera o farol do carro aceso, nem percebera, de tão bravo que estava. E não tinha mais ninguém naquelas bandas. O bairro só tinha escritórios e uma favela enorme por trás dos prédios chiques. Olhou para todas as janelas. Nenhuma luz acesa nem no prédio onde trabalhava, nem nos outros próximos. O único imbecil ainda ali por perto era ele.

Olhou pro único ponto de táxi da região: nada. Todos os bêbados antes dele já haviam garantido seu caminho de volta.

Não tinha escolha. Tinha de subir umas seis quadras até uma avenida paralela, onde podia pegar o último ônibus. Olhou no relógio - onze e meia! Se não corresse, ia chegar em casa seis da manhã. Tudo bem que, de ônibus, ia chegar a uma da manhã, mas uma ainda é melhor que seis. Aliás, naquela altura do campeonato, já não devia ter mais esposa, mesmo. Só esperava que ela não soubesse da arma que ele guardava na gaveta das cuecas, senão corria o risco de chegar em casa e ir parar no cemitério.

Começou a cruzar as ruas desertas. Pelo menos, a luz da lua cheia ajudava a enxergar bem, se tivesse escuro, ia ser pior ainda prá cruzar aquele chão todo.

Mal tinha cruzado a segunda quadra quando percebeu a sombra do cachorro. Tomou um susto do caramba, quase infartou. Cara, a sombra era enorme, pensou ter visto um cachorro do tamanho de um homem. Mas era só a sombra se juntando com a manguaça... Imagina, cachorro daquele tamanho!

Aproximou-se mais, disposto a dar um pontapé no lulu que o assustara. Mas quando chegou realmente perto, percebeu que não era uma sombra...

----xxxx----

O legista e mais dois auxiliares já haviam gasto boa parte da manhã recolhendo os pedaços do sujeito. O que quer que tivesse atingido o cara, fizera um estrago enorme. Só podia ser uma bomba, um explosivo, algo devia ter feito um estrondo enorme para justificar um corpo tão despedaçado daquela forma.

Voltou-se para o delegado, que acabara de conversar com os guardas.

- E aí, alguém ouviu o estrondo?

- Ninguém falou nada sobre estrondo nenhum. A única coisa que alguns moradores da favela ouviram foi um cachorro muito chato que ficou uivando a noite toda...


----FIM----



Nossa Edson, esse é o tal desgosto total. Uma sexta-feira 13 nefasta, um
casamento nessa data é mesmo singular, hehee, mas o final arrepiante
foi muito bom!

Ah. que legal ver você de volta por aqui!

E o desafio continua.
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Mensagem por Afonso Dom 22 Ago 2010 - 1:49

Tânia, estou muito interessado em participar do desafio, mas vou te dizer uma coisa: de onde você tirou esta frase? A vontade é grande, de participar, mas até agora não consegui botar nada na cachola que dê leite. Mas vou continuar tentando.
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Mensagem por Tânia Souza Dom 22 Ago 2010 - 2:38

Oi Afonso, então, vamos tentar contextualizar, heehe, essa frase realmente eu sempre ouvia minha mãe e outras pessoas da cidadezinha onde nasci, (lá pelas fronteiras onde Brasil já foi Paraguai) dizerem, falando que em agosto coisas ruins poderiam acontecer, como se fosse um mês meio azarado.

Hum, e a questão dos cães, ou o mês de cachorro louco, eu imagino que seja pela seguinte razão, os cães que contraiam ou transmitiam raiva, era mais comum nessa época, então, creio que seja isso.

Um mês de seca, poeirento e com cães raivosos nas ruas... já me dá bastante desgosto Razz

Se não for isso, deixo para a imaginaçao de cada um, inclusive a minha, tentar justificar o ditado.

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Mensagem por Victor Seg 23 Ago 2010 - 17:37

Agosto em desgosto

Que estranha ilusão supor que o belo é bom” (Tolstoi)

Subi, reticente. Não sabia o que esperava-me, conquanto o inescrutável sempre tenha, em mim, logrado assaz enlevo. As vezes que, dela, pude a presença usufruir, questões mordazes me assaltaram. Estas, entretanto, não eram-me claras, apesar da sua natureza ser dolosamente explicita. Incongruências inatas da situação impar, concluía. E assim, por tempo que já não me faz diferença, passei o cotidiano agora matizado de sua presença. Até o momento em que sou obrigado à este relato. Até os passos que tentam vencer os degraus a acessar-me o seu quarto.

As reticências, quando já estava a bater-lhe a porta, exortavam, como de costume. Se estes excertos nasciam dos lastros que havíamos construídos até então, não poderia dizer, de fato. Todavia, indicavam a penúria dos argumentos, pressentia. Um, dois, três toques. Em resposta, silêncio perturbador a demorar por instantes de recrescidas angustias. A sinfonia entregue pela perda de contato entre porta e umbral, característica ignominiosa do som natural deste desencontro, avolumou sentidos meus, aguçados de antemão pela esperança sub-reptícia que dava-me as mãos, apertadas, desde o inicio da empresa.

Inspirou profundamente, pressionando as alvas pálpebras, até estas formarem fina linha de cílios negros encantadores. Premia os lábios carnudos e inchados de vermelho recrescido pela alvura da tez limpa, “porcelanada”, arrisco dizer. Estendeu-me a educação, mesura encarnada em sua linhagem há priscos tempos, via-se desde o primeiro contato. Abria-se o horizonte das possibilidades encantadoras, ali, naquele simples gesto. Toda ansiedade, qualquer coisa a vaticinar incômodos, tudo a admoestar as reticências arcanas que me queriam algo dizer. Nada disso arrazoava suficientemente mais. Só os auspícios da beleza. Que apenas ela, em sua augusta manifestação, regia os ditames do encontro.

Palavra não saltou-lhe a boca. Indicou-me a poltrona, em estranha azáfama. No átimo da transição entre ordem e obediência, fixei olhar no colo transparente, que deixava a trama azul-esverdeada de veias e artérias em sintonia com desejos alhures procurados. Vide o retrair e expandir em êxtase do torso artífice de vontades provocantes. Prostrei-me e esperei a primeira sentença, construída em aforismos de peculiar penetração. Nada. Dois rutilantes olhos se aproximavam da minha alma, somente. Afundavam, macios, por entre os tecidos que constituíam esta matéria ignorada pela ciência draconiana. Vi, enxerguei o gozo de mil prazeres amalgamados numa explosão incontrolável, que assaltar-me-ia iminente. Assim tratou-me até este dia. Assim tratar-me-ia novamente. Céus. Infernos. Nada! O logradouro ao qual me dirigia era muito mais enlevante!

(...)

Lembro-me dos conselhos. Recordo-me do sentido apelado. Mas as reminiscências apagam-se neste exato instante. Tento invadir, ir mais longe no acesso às respostas, se é que elas existem. Mas sou barrado por sensações muito mais atiladas. Estas prendem-me, mantendo o corpo ajoelhado e o espírito exposto. O vampiro sorri, ao libar pelas fendas toda gota que escorre na fluidez dos espaços abertos. Os sulcos profundos dão permissão ao mergulho em arquejo estridente, arras da natureza lúrida desta e dos comensais que, agora, sentam, agacham-se, ao seu lado, no banquete. Até quando? Não sei. Apenas que era agosto, mês ordinário, como seus irmãos. Ainda o é? Pelo prazer em seus olhos, o gosto ainda é dos melhores. Então, até quando? Façamos assim, quando acabar, poderás ter a chance de saber, ao encontra-la. Ao encontra-los. Para seu desgosto.


Última edição por Victor em Sex 27 Ago 2010 - 12:18, editado 5 vez(es)
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Mensagem por Poleto Seg 23 Ago 2010 - 21:20

Pessoal mandando ver. Eu ando tão sem idéias...
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Mensagem por Flávio de Souza Seg 23 Ago 2010 - 23:28

Não encerrem esse desafio ainda...meu conto está pela metade...
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Mensagem por Tânia Souza Seg 23 Ago 2010 - 23:47

não vamos encerrar, também quero participar, rs, se conseguir terminar
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Mensagem por Flávio de Souza Ter 24 Ago 2010 - 23:33


CACHORRO LOUCO


Uma chuva persistente caíra sem interrupção durante todo o dia. O tamborilar irritante nos vidros da janela, o céu cinzento, o ar gelado, tudo conspirava para que o senso de controle de qualquer um fosse posto à prova, até mesmo daqueles que se consideravam plenos de paciência. Eu não tinha a menor esperança de que a noite pudesse reservar algo de novo, e, de fato, eu estava certo, pois mesmo com a chegada da escuridão, a maldita chuva ainda insistia em se fazer presente.

Era Agosto, e Agosto era sempre assim. Não era usual esse mês trazer algo além do frio e da monotonia. Não sei se só acontecia comigo, mas parecia que durante essas longas quatro semanas, um cheiro que remetia a cemitério ficava impregnado em minhas narinas. Sei que é algo estranho e inexplicável, mas isso me trazia um profundo desânimo, um pesar, como se minha alma lamentasse por esse período. Definitivamente, Agosto era o mais triste dos meses.

Mas, aquela noite acabou por mostrar-se diferente, no fim das contas. O marasmo tão peculiar a esse período diluiu-se com os últimos raios de sol. A noite, de face gelada e morta, trouxe em seus braços sombrios uma surpresa que me faria perceber a chegada desse mês maldito, ano após ano, mesmo sem o auxílio de um calendário. A partir daquela data, eu passei a sentir as nuanças dessa época com o próprio tato, com as vibrações, por assim dizer...

O estardalhaço vinha do quintal. Afastei umas lâminas da persiana e olhei pela fresta. A força das águas não me permitia entender o que acontecia, meu cachorro alternava latidos furiosos, com ganidos atemorizados. Não tive escolha, a não ser enfrentar o pranto dos céus em busca de esclarecimento.

O impermeável sobre meu corpo não me livrava das chicotadas dolorosas das águas, minha visão estava completamente turva. Um estrondo às minhas costas anunciava que a lâmpada do holofote havia estourado, imediatamente associei o infortúnio ao mau agouro causado pelo mês corrente. Mesmo sem a clareza nos olhos, notei um borrão escapando pelas cercanias do canil. Corri em direção ao incidente, as poças espirravam com meus passos, mas não consegui alcançar o intruso, ainda vislumbrei seus contornos desaparecendo pelo matagal no outro lado da rua.

Ouvi um rosnado rouco e baixo. Alcancei o isqueiro no bolso, protegi a integridade da chama com a mão em concha e investiguei o espaço à minha frente. Quase fui ao chão com o impacto proporcionado pelo susto, meu cachorro estava escolhido e ensopado, não só pela chuva, mas também pelo líquido vivo que escorria de um ferimento recém aberto. Mas não fora isso a causa de tamanho espanto, o que quase me derrubou mesmo foi a expressão insana do animal. Da boca escancarada escorria uma farta gosma esbranquiçada, seus olhos eram duas órbitas pálidas, o calor condensava o ar ao redor do focinho cinzento.

Com uma velocidade incompatível com a debilidade que aparentava, ele abocanhou a minha mão, o isqueiro foi ao chão, mas a escuridão repentina era maculada pelo par de esferas brancas diante de mim. Gritei de dor, de ódio, de desespero. Quase chutei o bicho, mas me controlei e decidi retornar para casa.

O sangue escorria pelo meu braço. Os dentes mal haviam tocado minha pele, mas o ferimento apresentava uma estranha profundidade. E borbulhava! O líquido espesso borbulhava como água fervente!

Consumido por uma dor infernal, abri as portas do armário derrubando caixas e vasilhames. Eu sabia que precisava lavar o ferimento com sabão em barra, pelo menos assim dizia a minha avó. Era certo de o meu cão estar raivoso, os sintomas saltavam aos olhos. Mas demorou até que eu conseguisse encontrar um mísero pedaço do maldito sabão. Nada era fácil nesse mês! Absolutamente nada!

Meu braço ardia, queimava como ferro em brasa, mas não era o resultado do ímpeto urgente com o qual eu manipulava a escova de cerdas duras a esfolar minha carne. A ardência parecia circular em minhas veias, foi aí que entendi que eu também poderia ter sido infectado pelo mesmo mal que dominava o pobre animal. Era preciso agir rápido, pois o problema piorava na mesma proporção da tempestade...

A vida em solidão, a antipatia plantada com os vizinhos, privacidade que pede um preço alto em situações como essa. Uma fisgada dobrou minhas pernas, tentei, sem sucesso, conter o fluxo violento que surgiu indomado em minha garganta. Precisei me arrastar pelo chão até o telefone, não lembro ao certo como consegui pedir ajuda. A única recordação perceptível foi a de estar atrelado a uma maca, enquanto luzes intermitentes me vigiavam. Depois, só a escuridão...

Quando abri os olhos, não havia certeza nenhuma em minha mente, apenas um vazio entorpecido parecia preencher meus pensamentos. Uma máscara ocultava parcialmente meu rosto, fios e tubos se espalhavam ao redor. Eu não sabia quanto tempo havia se passado, mas, pelo menos, uma convicção enfim brotava, embora esta não fosse agradável: Estávamos no maldito mês de Agosto, meu corpo sentia isso em cada célula.

Mas, uma surpresa tão grande quanto a que vi estampada no rosto da enfermeira, ao me ver andando, me dominou. Era Agosto sim, porém um ano inteiro havia se passado desde que entrei em coma. Os médicos não conseguiam entender, muito menos explicar, a súbita e surpreendente recuperação. Eu me sentia em excelente estado, como se nada tivesse acontecido. Assim, assinei diversos papéis, incluindo um termo de responsabilidade, a fim de me livrar o mais breve possível daquele lugar.

Já em casa, passei as horas diurnas numa infrutífera reflexão. Desta forma, a noite chegou e partiu, não tardando para que a alta madrugada me enlaçasse em seus braços. Foi quando comecei a sentir algo diferente, um formigamento por todo o corpo, acompanhado da sensação de que nenhuma gota de saliva salpicava minha boca. Parecia que cada músculo do meu corpo exercia vontade própria em oposição aos comandos que eu ordenava.

A ardência, a mesma ardência que parecia correr em minhas veias há exatos doze meses, parecia voltar mais avassaladora do que nunca. Precisei me livrar das roupas para não sufocar. Como um louco, pulei pela janela, mesmo sem entender o porquê de tal ato, e comecei a correr pelas ruas, me debatendo e uivando para a lua. Nunca havia sentido tamanha fome, era como se o próprio estômago devorasse as vísceras. Meu corpo estava em evidente transformação. Seria possível que o antigo mal tivesse me possuído, ao invés da suspeita de hidrofobia, como eu imaginava?

Só havia uma saída, sim, uma última e desesperada chance de salvação. Se eu bem conhecia a lenda, ainda daria tempo. O cão, que viera a morrer assim que a ambulância chegou para me socorrer, havia sido enterrado no quintal, conforme a informação do pessoal do hospital. Por fim, nem todos os vizinhos se importavam com a antipatia gratuita que eu distribuía, alguma alma caridosa e anônima fora sensível a estima que eu dispensava àquele animal, meu único amigo.

Um inexplicável senso de direção me levou ao local exato, onde jazia o corpo do bicho. Talvez fosse obra do instinto cada vez mais aflorado que surgia. Sem perceber, eu já apoiava os quatro membros no chão, revolvendo a terra como uma fera selvagem. Logo o corpo putrefato do cachorro surgia diante de mim.

Meus novos dedos não encontraram dificuldades para rasgar os vestígios de carne poupados pelos vermes, os ossos também não ofereceram qualquer resistência. Encontrei o que buscava, e para nova surpresa, estava inacreditavelmente intacto. O coração do cão pulsava vivo em minhas mãos! Não hesitei em por o músculo ensangüentado na boca, pois só assim a maldição poderia ser quebrada; devorando a fonte da vida daquele que transmitiu a triste sina.

A mórbida refeição, sinônimo do sucesso, pareceu tranqüilizar a ebulição em meu sangue, mas foi só ouvir um som aterrador e terrivelmente familiar, para que uma nova onda de desespero se apoderasse de mim. A saciedade mostrou-se momentânea, entendi isso quando percebi a matilha em plena caçada. Saltei o muro em busca de compaixão e conforto, corri como aqueles à minha frente. Eu não conseguia definir o que sentia ao certo, era euforia, dor, desespero, liberdade, tudo ao mesmo tempo.

A matilha parou numa praça, um morador de rua estava encurralado. Todos já estavam cientes de minha presença, inclusive a provável vítima e um indivíduo que se destacava do grupo. Eu não havia perdido completamente a consciência, a humanidade ainda resistia em mim, um detalhe que me fez refletir. Era óbvio, o cão não fora o transmissor do mal, ele não passava de um intermediário, seu corpo frágil não poderia desenvolver a maldição. Na realidade, uma daquelas feras era a culpada, eu havia visto um vulto naquela noite, e eu não precisava do instinto apurado para saber qual seria. Se eu quisesse salvação, teria de matar e comer o coração do líder da matilha.

Um desafio mudo já estava lançado, a fera se preparava para o embate. O homem sangrava enquanto testemunha de tão incomum episódio, embora soubesse que não teria oportunidade para compartilhar a experiência. Os demais membros do grupo permaneciam imóveis, era bem provável que eu não sobrevivesse também, mas a vontade de viver como um ser humano livre pulsava forte em meu peito.

Uma sombra saltou sobre mim, senti uma dor indescritível quando as lâminas alvas me tocaram. A mandíbula da criatura se movia num ritmo alucinante. Tentei resistir, usando meus dentes e unhas para isso, mas era como se eu estivesse investindo contra rocha sólida. Meu corpo ainda não estava preparado para semelhante desafio, fui vítima de uma estupidez sem tamanho, e sem qualquer chance para arrependimento.

Meu corpo estava retalhado, o sangue escapava pelos inúmeros buracos que por ele se espalhavam, minha carne servia de alimento. Então tombei, irreversivelmente derrotado. Eu não conseguia mexer um único músculo. A respiração lenta e irregular denunciava que o fim estava próximo, talvez fosse melhor assim. Minha visão era assaltada pelos olhos vítreos do homem, sua cabeça estava bem próxima de mim. Mesmo morto, ele ainda guardava a expressão sofrida causada pelo maior e mais absoluto dos medos: a morte, sobretudo uma morte terrível como a que sofrera.

Destino inevitável a ser compartilhado por duas almas condenadas, pois a presença da matilha ao meu redor não deixava dúvidas quanto a isso. Fechei os olhos, era tudo o que me restava, eu não precisava de dignidade naquele momento. Mas, como tantas outras coisas estranhas que só acontecem em Agosto, eu não fui sacrificado. Ao invés disso, senti um odor irresistível invadir minhas narinas, era um aroma totalmente diferente do exalado pelo sangue canino.

O coração do homem era oferecido a mim, como uma passagem para a salvação. Salvação? Eu estaria fadado a me alimentar dos viventes, espalhando a peste e disseminando o medo. Seria impedido de guardar um teto, amar alguém ou gerar filhos. Seria a sombra de um homem num corpo de besta. Eu tentei negar, implorei pela morte, mas contra o feitiço da carne não há como lutar.

Hoje estou aqui. Sou mais um membro da matilha. Caçamos nas noites de lua plena, em qualquer época do ano, mas preferimos um determinado período, uma ocasião especial, na qual nos sentimos mais vivos, afinal, Agosto é o mês do cachorro louco...e a insanidade me consome.
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Mensagem por Victor Sex 27 Ago 2010 - 12:12

- Edson, seu conto é rápido e repleto da irônia natural dos textos que nos querem expectadores, mais do que leitores. Isso o faz conduzir-nos à uma expectativa travessa, tal qual crianças na fase mais intensa desta, deixando ao final uma grata surpresa, aquela que costumeiramente surpreende-nos.

- Flávio, tu és um dínamo da verve lupina. O que faz com as idéias, mesmo as mais óbvias, do universo licantropo é algo de extraordinário, no sentido primeiro da palavra! Este conto apenas sedimentou a sua vocação (vocare, em latin, "chamado") para aquilo que diz respeito aos lobos. Qdo se trata deles, tu és chamado por algo não perscrutável ao olhos dos simples, como eu e mtos outros. Conto soberbo!
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 28 Ago 2010 - 11:08

Edson, Comentando novamente o seu conto, como eu disse antes, é principalmente surpreendente, gostei principalmente do desfecho e acho que o comentário do Victor me ajudou a entender esse lance do leitor como expectador, muito legal também foi que o tom do terror ficou no não dito, na certeza de que o azar era tanto que só poderia terminar, ou começar da forma como aconteceu. Ah, deveras pertinente ao mês de lulus loucos.


Victor, um conto inquietante, diria que sensual, até mesmo as reticências provocam a imaginação do leitor à sombras e deleites que agosto nenhum poderia explicar. Quem é quem não importa neste conto repleto de sinestesias, apenas a sugestão de um universo com o qual, a qualquer instante, o leitor pode se deparar. Se é para gosto ou desgosto, apenas ele, ou eles, poderão dizê-lo.

Flávio, a cada conto você consegue reinventar a saga lupina, a cada narrativa os lobos renascem em novas lendas, em faces cada vez mais ferozes e, ao mesmo tempo, com uma melancolia surpreendente, muito bom esse conto. Esta fera consumida pela dilema moral, mas vencida pela insanidade de agosto ficou soberba.


Ainda não consegui findar o meu, mas vou tentar, temos até o fim deste mês, ou seja, ainda há tempo para provar do veneno de agosto.
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 28 Ago 2010 - 17:15

Meu nome é Ana e eu vou matar você

Meu nome é Ana. Eu vou matar você. E prometo, você vai gostar.

Ana. Um nome simples para uma garota comum, caminhando pelas ruas de uma cidade esfumaçada e suja. Ao mundo, sou a imagem de uma garota que vaga na noite escura e conta outra sina, menina de família, comportada Ana se arriscando por lugares obscuros. A quase inocência costuma ser um atrativo interessante. Você me olha e vê uma moça que estudou, mas não muito, deduz que vou me casar com um bom rapaz , que devo ser apenas mais uma Ana e, quem sabe um dia, esposa, mãe, avó . Talvez o que veja seja apenas uma boa menina, com vontade e desejo de se arriscar.

Os seus olhos e os olhos do mundo não me vêem: não como uma andarilha; não essa criatura perversa, lasciva, sedenta de sangue e vingança; não uma moça que se esconde nas sombras; não uma arma. Não como de fato sou.

Mas é agosto. E devo pagar minha dívida. Agosto tem cheiro de sangue, de carne e desejos inconfessos. Quando agosto chega, desperto em minha sina ancestral. Sinto então os sonhos mais secretos de cada um e meus seios estremecem na ânsia de uma missão que outrora me causou tanta dor. Quando agosto chega, é hora de caçar.

Meus saltos ecoam na calçada e os olhos mortiços da noite me seguem. Essa cidade tem cheiro de fuligem. Eu gosto do cheiro infecto destas ruas. Mas não devo ficar aqui por mais tempo. Vejo a cidade uivando entre as luzes e sombras... Os passos dessa gente carente, perdida entre concreto e metal retorcido, olhos embaçados com tanta sede e vicio me buscam e ainda que não saibam, me imploram a cada dia. No entanto, você foi o escolhido. Sinto sua alma percorrendo-me e suas paixões me renovam. Eu sou a faca, a arma apontada para seu peito, a lâmina que vai dilacerar sua carne. Mas ainda assim você sorri e vem a mim. Entregue. Dócil.

Meu nome é Ana. Eu vou matar você. E depois, bem depois verei por onde vou... Não é minha escolha matá-lo. Nunca escolho e aprendi a não negar, a dor é muito forte. Eu não gosto da dor. Bem, talvez goste, um pouco. Afinal, é agosto e para meu gosto, o seu. É o tempo de caçar e pagar a minha divida. É agosto.

Você tem os olhos do mundo, agora fixos em meus lábios e, olhando para minha boca, ri quando digo que sou perigosa. Sim, já lhe disse que sou perigosa. Não gosto de mentir. Você sorri e não acredita, acariciando minha face. Você vê apenas a beleza que Ele me deu. Toca em meus cabelos vermelhos, tão preso em meus olhos verdes, bonita sim, quase nem creio no espelho. Bonita e letal.

Eu bebo seus gemidos quando minhas unhas rasgam sua pele e ainda assim, me implora por mais. E quando minha língua lasciva sorve suas lágrimas, seu sangue sacia minha sede em sua carne morena. Enfim, por alguns dias você é meu, totalmente meu. Pois é agosto e Ele espera por você.

Quem eu sou? Não importa baby, sou um anjo de asas dilaceradas. Alguns me chamam infâmia, insanidade, epidemia, desgraça, peste, raiva, desgosto. Mas meu nome é Ana. E carrego comigo paixões das almas incautas dos que cruzam meu caminho. Almas que Ele escolhe e cabe a mim, arrebatá-las. Vago pelas noites de cidades que nunca dormem, entre canções e baladas desesperadas, criaturas enlevadas por substâncias tão surreais quanto os mundos de pesadelo onde vivi. O tempo não existe. De uma pequena vila em um século perdido quando degustei pela primeira vez a hóstia rubra de demônios insanos até o ultimo dia da existência da humanidade, sereia serva fiel de somente um senhor. E por Ele sou Ana, a imortal, por Ele, meus passos arderão pela eternidade. É tão breve e doce o pagamento para tão longo legado.

Meu nome é Ana. Eu vou matar você. E prometo, você vai gostar.

Por Tânia Souza




Última edição por Tânia Souza em Qui 2 Set 2010 - 19:20, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Poleto Sáb 28 Ago 2010 - 19:07

E a T. ainda anda reclamando de falta de inspiração...
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 28 Ago 2010 - 21:46

Ah, mas este não era o conto que estava escrevendo, tive que desistir daquele. Só que realmente, me sinto aliviada por ter terminado algo, mesmo que não muito satisfeita com o resultado.
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Mensagem por Tânia Souza Ter 31 Ago 2010 - 21:48

Personas, desafio termina hoje, valeu mesmo meninos, pelas postagens, Edson, Victor e Flávio, adorei os contos. Que venham os próximos!
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Mensagem por Victor Qua 1 Set 2010 - 11:23

T, este texto é célere naquilo que quer-nos! E a velocidade que o acomete está em proporção irrefreável com as sentenças inflexiveis da personagem, tal qual criaturas da natureza tratada ali. Umbra e penumbra num conto com o fio angustiantemente cortante!!
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Mensagem por Flávio de Souza Qui 2 Set 2010 - 0:12

Aê, Galera! Com o fim do desafio...

Edson, final aterrador...
Victor, cruel e eficiente, como sempre...
T, passei a olhar para as Anas com outros olhos...

É isso aí!
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