POÉTICA DAS SOMBRAS
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POÉTICA DAS SOMBRAS
Este espaço é dedicado à publicação de poemas, prosas poéticas, e todo e qualquer tipo de texto rimado inserido no assunto contemplado pela proposta do forum da Câmara dos Tomentos.
Última edição por Henry em Qua 21 Jan 2009 - 15:00, editado 1 vez(es)
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Há um aspecto muito interessante a respeito deste tipo de poesia que é o da poesia DECADENTISTA cujo um dos maiores expoentes é Charles Baudelaire. Gostaria que algum dos amigos se dispusesse a nos falar um pouco sobre o assunto.
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
De modo geral, o Decadentismo refere-se a um conjunto de manifestações oriundas principalmente das composições dos poetas denominados malditos, tais como Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Verlaine. Estes poetas foram chamados assim por refletirem em seus versos a decadência moral e estética que marcava a sociedade européia no fim do sec. XIX. Esta forma de composição foi uma reação contra a ordem, contra os valores da sociedade industrial, da modernidade, (modernidade que Baudelaire amava e odiava ao mesmo tempo).
Deveria ter o meu inferno pela cólera, meu inferno pelo orgulho, - e o inferno da preguiça; um concerto de infernos. Morro de cansaço. É o túmulo, vou para os vermes, horror de horrores! Satã, farsante, queres dissolver-me com teus feitiços? Exijo. Exijo! Um golpe de tridente, uma gota de fogo.(...) (Rimbaud)
Por isso, a poesia do Decadentismo explorava as atitudes anárquicas, o satanismo, a perversão, a morbidez, o terror. Também o pessimismo, a insanidade, a alucinação, a crueza da realidade banal, o uso de vocabulário raro e neologismos, se a sociedade era decadente, a poesia buscava expressar essa decadência. É importante destacar que o ambiente do fim do século propiciava o surgimento do feio como proposta básica, o individuo perante a multidão, perante o todo, as relações humanas cada vez mais dilaceradas, o excesso tecnológico, o tédio da existência, a certeza de que a realidade era feia e não poderia ser mudada, traduzida enfim pelo fim da esperança e pelo fortalecimento da idéia do tédio, do nada.
Prefiro ao ópio, ao vinho, à bêbeda loucura,
O elixir dessa boca onde o amor se engalana;
Se meus desejos vão a ti em caravana,
É do frescor dos olhos teus que ando à procura. (Baudelaire)
Posteriormente, o Decadentismo deu origem ao Simbolismo, cujo eixo estético pode ser a superação do racionalismo e mergulho no eu, no mais profundo eu, na busca pelos mistérios da vida. Pelo universo simbólico das sensações e sugestões. Baudelaire foi o principal expoente da estética do Decadentismo. A inovação de imagens e de linguagem foi sua principal marca, mesclando o romantismo exacerbado com o grotesco, com o sombrio, e dessa fusão, nasceu a poesia baudelaireana, a poesia do Decadentismo, precursora das vanguardas, poesia onde o Expressionismo e o Surrealismo na Literatura deram os primeiros passos. Em sua poética, pode-se reconhecer a ironia, o sarcasmo, o deboche permeando a imagem da decomposição, o asco, e principalmente, a presença da morte, musa constante.
Vivemos pela morte e só ela é que afaga;
É a única esperança, e o mais alto prazer,
Que como um elixir nos transporta e embriaga,
E nos faz caminhar até o anoitecer. (Baudelaire)
Eis o Decadentismo: polêmico, sombrio, melancólico, entediado, mórbido. Marcou a literatura da época e permaneceu influenciando a poesia moderna de uma forma contundente.
E como convite ao inquietante, deixo aqui os versos de Baudelaire, dedicados Ao leitor
Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
* Esse resumo é parte de um texto maior que estou escrevendo sobre o Decadentismo, em breve trago o link, ah, se algum dos amigos tem outras informações sobre o tema, será muito bem vindo!
E vamos aos poemas de inspiração Decadentista??
Deveria ter o meu inferno pela cólera, meu inferno pelo orgulho, - e o inferno da preguiça; um concerto de infernos. Morro de cansaço. É o túmulo, vou para os vermes, horror de horrores! Satã, farsante, queres dissolver-me com teus feitiços? Exijo. Exijo! Um golpe de tridente, uma gota de fogo.(...) (Rimbaud)
Por isso, a poesia do Decadentismo explorava as atitudes anárquicas, o satanismo, a perversão, a morbidez, o terror. Também o pessimismo, a insanidade, a alucinação, a crueza da realidade banal, o uso de vocabulário raro e neologismos, se a sociedade era decadente, a poesia buscava expressar essa decadência. É importante destacar que o ambiente do fim do século propiciava o surgimento do feio como proposta básica, o individuo perante a multidão, perante o todo, as relações humanas cada vez mais dilaceradas, o excesso tecnológico, o tédio da existência, a certeza de que a realidade era feia e não poderia ser mudada, traduzida enfim pelo fim da esperança e pelo fortalecimento da idéia do tédio, do nada.
Prefiro ao ópio, ao vinho, à bêbeda loucura,
O elixir dessa boca onde o amor se engalana;
Se meus desejos vão a ti em caravana,
É do frescor dos olhos teus que ando à procura. (Baudelaire)
Posteriormente, o Decadentismo deu origem ao Simbolismo, cujo eixo estético pode ser a superação do racionalismo e mergulho no eu, no mais profundo eu, na busca pelos mistérios da vida. Pelo universo simbólico das sensações e sugestões. Baudelaire foi o principal expoente da estética do Decadentismo. A inovação de imagens e de linguagem foi sua principal marca, mesclando o romantismo exacerbado com o grotesco, com o sombrio, e dessa fusão, nasceu a poesia baudelaireana, a poesia do Decadentismo, precursora das vanguardas, poesia onde o Expressionismo e o Surrealismo na Literatura deram os primeiros passos. Em sua poética, pode-se reconhecer a ironia, o sarcasmo, o deboche permeando a imagem da decomposição, o asco, e principalmente, a presença da morte, musa constante.
Vivemos pela morte e só ela é que afaga;
É a única esperança, e o mais alto prazer,
Que como um elixir nos transporta e embriaga,
E nos faz caminhar até o anoitecer. (Baudelaire)
Eis o Decadentismo: polêmico, sombrio, melancólico, entediado, mórbido. Marcou a literatura da época e permaneceu influenciando a poesia moderna de uma forma contundente.
E como convite ao inquietante, deixo aqui os versos de Baudelaire, dedicados Ao leitor
Se o veneno, a paixão, o estupro, a punhalada
Não bordaram ainda com desenhos finos
A trama vã de nossos míseros destinos,
É que nossa alma arriscou pouco ou quase nada.
* Esse resumo é parte de um texto maior que estou escrevendo sobre o Decadentismo, em breve trago o link, ah, se algum dos amigos tem outras informações sobre o tema, será muito bem vindo!
E vamos aos poemas de inspiração Decadentista??
O Feio
Escondo o rosto não sei do quê
Revejo meu reflexo escondido no espelho
Assombração que não se crê
Reflexo maldito de olhos vermelhos
Perco-me em pensamentos obscuros
Revelando aos poucos meu rosto deformado
Cicatrizes escondidas por um manto escuro
Rosto de besta, animal já marcado
A água, sei que a água lava o sangue
Mas minhas mãos jamais
Sei que mesmo que a ferida estanque
Minha mão suja para sempre e mais
Vejo já meu rosto inteiro
Que poucos viram e muitos detestam
Penso que sou feio, sou feio
Meus instintos me confessam
Continuo sempre nessa imundice
Eu impresso em todos os jornais
Escondido do mundo em sua idiotice
Sou eu ali, o imundo, sou eu e ninguém mais
O assassino, o estuprador, o bandido
Escondido nessa carapaça de homem
Escondido da sociedade, escondido
Que minha mulher chama de bom homem
Tão feio na imagem do espelho
Marcado como animal que sou
Porém confesso que os olhos vermelhos
Me divertem nesse rumo que vou
Passo a mão na barba feita
E no espelho vejo minha mulher vindo
Me abraça por trás satisfeita
Peca inocente me olhando no espelho: "Lindo, lindo."
BOI
Só pra movimentar isso aqui hehehe
Revejo meu reflexo escondido no espelho
Assombração que não se crê
Reflexo maldito de olhos vermelhos
Perco-me em pensamentos obscuros
Revelando aos poucos meu rosto deformado
Cicatrizes escondidas por um manto escuro
Rosto de besta, animal já marcado
A água, sei que a água lava o sangue
Mas minhas mãos jamais
Sei que mesmo que a ferida estanque
Minha mão suja para sempre e mais
Vejo já meu rosto inteiro
Que poucos viram e muitos detestam
Penso que sou feio, sou feio
Meus instintos me confessam
Continuo sempre nessa imundice
Eu impresso em todos os jornais
Escondido do mundo em sua idiotice
Sou eu ali, o imundo, sou eu e ninguém mais
O assassino, o estuprador, o bandido
Escondido nessa carapaça de homem
Escondido da sociedade, escondido
Que minha mulher chama de bom homem
Tão feio na imagem do espelho
Marcado como animal que sou
Porém confesso que os olhos vermelhos
Me divertem nesse rumo que vou
Passo a mão na barba feita
E no espelho vejo minha mulher vindo
Me abraça por trás satisfeita
Peca inocente me olhando no espelho: "Lindo, lindo."
BOI
Só pra movimentar isso aqui hehehe
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Oba! Movimentação na tópico! Bom trabalho Boi, bom mesmo!
Sobre o excelente artigo da Tânia, em breve teremos a versão completa publicada na Câmara dos Tormentos! Aqui ele nos servirá como um norte para nos orientar na hora de postarmos poesias sombrias no tópico. Muito bom Tânia, parabens! Em breve o link para versão completa será disponibilizado aqui mesmo neste tópico.
Vamos lá pessoal! A poesia sombria tem este espaço aqui todo pra ela!
Sobre o excelente artigo da Tânia, em breve teremos a versão completa publicada na Câmara dos Tormentos! Aqui ele nos servirá como um norte para nos orientar na hora de postarmos poesias sombrias no tópico. Muito bom Tânia, parabens! Em breve o link para versão completa será disponibilizado aqui mesmo neste tópico.
Vamos lá pessoal! A poesia sombria tem este espaço aqui todo pra ela!
Última edição por Henry em Qua 21 Jan 2009 - 11:49, editado 1 vez(es)
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
BOI escreveu:Escondo o rosto não sei do quê
Revejo meu reflexo escondido no espelho
Assombração que não se crê
Reflexo maldito de olhos vermelhos
Perco-me em pensamentos obscuros
Revelando aos poucos meu rosto deformado
Cicatrizes escondidas por um manto escuro
Rosto de besta, animal já marcado
A água, sei que a água lava o sangue
Mas minhas mãos jamais
Sei que mesmo que a ferida estanque
Minha mão suja para sempre e mais
Vejo já meu rosto inteiro
Que poucos viram e muitos detestam
Penso que sou feio, sou feio
Meus instintos me confessam
Continuo sempre nessa imundice
Eu impresso em todos os jornais
Escondido do mundo em sua idiotice
Sou eu ali, o imundo, sou eu e ninguém mais
O assassino, o estuprador, o bandido
Escondido nessa carapaça de homem
Escondido da sociedade, escondido
Que minha mulher chama de bom homem
Tão feio na imagem do espelho
Marcado como animal que sou
Porém confesso que os olhos vermelhos
Me divertem nesse rumo que vou
Passo a mão na barba feita
E no espelho vejo minha mulher vindo
Me abraça por trás satisfeita
Peca inocente me olhando no espelho: "Lindo, lindo."
BOI
Só pra movimentar isso aqui hehehe
Ei Boi, aplausos e mais aplausos, deveras sombria essa poética!
Muito bom!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Olhar sem paz
Por: Alípio Lupicínio (1815)
Do cume do abismo eu vejo os horrores
Do orco profundo que a mim se apresenta
São minhas memórias das dores do mundo
Que a alma prostrada de dor não aguenta
Dos olhos fechados vertente se inflama
São todas as vezes que o medo grassou
E o corpo dormente já não mais reclama
Do ranço mortiço que o envenenou
E vejo as belezas das mil maldições
Que a vida dos homens me trouxe sem dó
Do canto altaneiro espreitando ao redor
Onde tudo é triste, mofado e só.
Me pego chorando por todos na terra
lembrando de amores e ódios passados
De faces medonhas, corpos derrotados
Me faço autor e senhor desta guerra.
E sinto a tristeza de olhar para o fundo
Onde a treva se esconde qual monstro infeliz
Soltando no espaço suspiros e ardis
Lá onde me vejo espreitando este mundo!
Por: Alípio Lupicínio (1815)
Do cume do abismo eu vejo os horrores
Do orco profundo que a mim se apresenta
São minhas memórias das dores do mundo
Que a alma prostrada de dor não aguenta
Dos olhos fechados vertente se inflama
São todas as vezes que o medo grassou
E o corpo dormente já não mais reclama
Do ranço mortiço que o envenenou
E vejo as belezas das mil maldições
Que a vida dos homens me trouxe sem dó
Do canto altaneiro espreitando ao redor
Onde tudo é triste, mofado e só.
Me pego chorando por todos na terra
lembrando de amores e ódios passados
De faces medonhas, corpos derrotados
Me faço autor e senhor desta guerra.
E sinto a tristeza de olhar para o fundo
Onde a treva se esconde qual monstro infeliz
Soltando no espaço suspiros e ardis
Lá onde me vejo espreitando este mundo!
Última edição por Henry em Qua 21 Jan 2009 - 15:20, editado 2 vez(es)
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
LUA MALDOSA
Autor:Alípio Lupicínio (1897)
Uma lua gorda e feia
Presencia minha dor
Vê os pelos que cresceram,
e o nariz que esticou.
Velha lua agourenta
Tu que espreitas sem perdão
Impuseste essa tormenta
Para mim sem ter razão
Faz-me andar de quatro patas
Pelos campos a uivar
Feito besta mal amada
A matar e destroçar
Mas te digo lua chata
Que um dia já amei
Pois é certo, é conta exata
Um dia me livrarei
Da tua sina horripilante
Saltarei pra te pegar
Ai no teu ceu distante
E feliz te apagar!
Autor:Alípio Lupicínio (1897)
Uma lua gorda e feia
Presencia minha dor
Vê os pelos que cresceram,
e o nariz que esticou.
Velha lua agourenta
Tu que espreitas sem perdão
Impuseste essa tormenta
Para mim sem ter razão
Faz-me andar de quatro patas
Pelos campos a uivar
Feito besta mal amada
A matar e destroçar
Mas te digo lua chata
Que um dia já amei
Pois é certo, é conta exata
Um dia me livrarei
Da tua sina horripilante
Saltarei pra te pegar
Ai no teu ceu distante
E feliz te apagar!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
A NOITE DOS HORRORES
Por: Alípio Lupicínio (1740)
Estou só
E só me perco em devaneios
De gritos e lamentos em rostos tão feios
Me vejo vagando entre mortos e escombros
Carrego a vergonha comigo nos ombros
De um dia não ter feito nada de bom
Sou morto que vaga tristonho e sem dom
De roupas escuras e olhar embaçado
Pois triste caminha calada ao meu lado,
ouvindo do sino da morte o dobrado,
Agonia de ser só mais um dos danados.
E o verme da noite que come a esperança
Deixando o diabo tão maravilhado,
Não nega a desgraça para o moribundo
Tampouco o fogo para o condenado!
Por: Alípio Lupicínio (1740)
Estou só
E só me perco em devaneios
De gritos e lamentos em rostos tão feios
Me vejo vagando entre mortos e escombros
Carrego a vergonha comigo nos ombros
De um dia não ter feito nada de bom
Sou morto que vaga tristonho e sem dom
De roupas escuras e olhar embaçado
Pois triste caminha calada ao meu lado,
ouvindo do sino da morte o dobrado,
Agonia de ser só mais um dos danados.
E o verme da noite que come a esperança
Deixando o diabo tão maravilhado,
Não nega a desgraça para o moribundo
Tampouco o fogo para o condenado!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Alípio Lupicínio, poeta das distantes paragens, estou cada vez mais fã destes versos.....
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Ad Infinitum
Mãos espectrais, mórbida regência
Palhaço macabro anuncia porvir
Gritando ópera sangrenta
Espera, não ainda, murmuram alguns
Girassóis desenham vangoghiaha espera
Talvez de outros sóis sobrevenha primavera
Mas gargalha o Palhaço da Podridão
Facas da morte cumpriram seu ato
Circo macabro não nega espetáculo
De concreto e solidão palco se faz
— Venham! Venham todos!
O espetáculo dos séculos enfim
Crianças deixem os folguedos
De sangue terão novos brinquedos
Venham todos ao circo da morte
Ouçam os tambores retumbantes
O Tenebroso Espetáculo começa
Ainda hoje sangue lodo em vão
E das gargantas gritos clamam
Que venha a orgíaca celebração
Orquestra infernal:
Sangue e lodo
Sangue e lodo
Sangue e lodo
Sangra a existência
Vence enfim maledicência
Venham todos: senhoras e senhores
Venham todos ao teatro dos horrores
Tragam a foice e o machado
Para o monstruoso reinado
É chegada a hora da carnificina
Eis da vida a marcante sina
Em cada mão, rubra tatuagem
E já o horizonte em rubi colore-se
Ad Infinitum
Tânia Souza
Mãos espectrais, mórbida regência
Palhaço macabro anuncia porvir
Gritando ópera sangrenta
Espera, não ainda, murmuram alguns
Girassóis desenham vangoghiaha espera
Talvez de outros sóis sobrevenha primavera
Mas gargalha o Palhaço da Podridão
Facas da morte cumpriram seu ato
Circo macabro não nega espetáculo
De concreto e solidão palco se faz
— Venham! Venham todos!
O espetáculo dos séculos enfim
Crianças deixem os folguedos
De sangue terão novos brinquedos
Venham todos ao circo da morte
Ouçam os tambores retumbantes
O Tenebroso Espetáculo começa
Ainda hoje sangue lodo em vão
E das gargantas gritos clamam
Que venha a orgíaca celebração
Orquestra infernal:
Sangue e lodo
Sangue e lodo
Sangue e lodo
Sangra a existência
Vence enfim maledicência
Venham todos: senhoras e senhores
Venham todos ao teatro dos horrores
Tragam a foice e o machado
Para o monstruoso reinado
É chegada a hora da carnificina
Eis da vida a marcante sina
Em cada mão, rubra tatuagem
E já o horizonte em rubi colore-se
Ad Infinitum
Tânia Souza
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
O labirinto
Para Paulo Soriano
Uma vez, vozes nefastas sussurravam mistérios
A noite cobriu-se súbita de névoas e neblinas
O céu estremecia em nuvens oscuras
Uma aura de insanidade percorreu as ruas
E a vida confundiu-se em mórbida fantasia
Era Ela um anjo em forma de menina
Eis então que em sono profundo conheceu-se:
A face sombria, torpe, tão mesquinha...
Despertou em angústica arritmia
Olhos tristes, tentou não mais dormir
Mas junto ao luar a sombra renascia
Era Ela crueldade em vestes femininas
Eis então que em sono profundo conheceu-se:
Traços suaves, ternura, tanta gentileza...
Debateu-se insana para não despertar
Derramou lágrimas que não conhecia
Mas junto ao sol a sombra renascia
E as duas em uma foram seus dias seguindo
Sem mais saber o que era sonho ou realidade
De orgias e penitências as almas viviam
A donzela que não queria adormecer
A dama sombria que não queria despertar
Sonâmbulos são os passos no labirinto da agonia.
Tânia Souza
Poema reverberado após a intensidade leitora do conto Círculo Vicioso - (In. Histórias Nefastas, de Paulo Soriano) perdoe-me Paulo, pela in-licença poética!
Para Paulo Soriano
Uma vez, vozes nefastas sussurravam mistérios
A noite cobriu-se súbita de névoas e neblinas
O céu estremecia em nuvens oscuras
Uma aura de insanidade percorreu as ruas
E a vida confundiu-se em mórbida fantasia
Era Ela um anjo em forma de menina
Eis então que em sono profundo conheceu-se:
A face sombria, torpe, tão mesquinha...
Despertou em angústica arritmia
Olhos tristes, tentou não mais dormir
Mas junto ao luar a sombra renascia
Era Ela crueldade em vestes femininas
Eis então que em sono profundo conheceu-se:
Traços suaves, ternura, tanta gentileza...
Debateu-se insana para não despertar
Derramou lágrimas que não conhecia
Mas junto ao sol a sombra renascia
E as duas em uma foram seus dias seguindo
Sem mais saber o que era sonho ou realidade
De orgias e penitências as almas viviam
A donzela que não queria adormecer
A dama sombria que não queria despertar
Sonâmbulos são os passos no labirinto da agonia.
Tânia Souza
Poema reverberado após a intensidade leitora do conto Círculo Vicioso - (In. Histórias Nefastas, de Paulo Soriano) perdoe-me Paulo, pela in-licença poética!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
ESPECTRO
Por Alípio Lupicínio (1986)
Parado num canto qualquer,
feito espectro invisível,
espreito as multidões.
Vejo nelas a confusão das horas
e o horror dos tempos.
Escondido nas sombras
acompanho os rumores.
Das lamúrias mais tristes
aos mais loucos humores.
E sinto a vergonha de ser como é
este meu dissabor irascível
Como força maldita de poder incrível
que macula a carne como coágulo venal!
Mas, ó, que destino tão desigual
me separa dos insípidos fiéis desta horda
que se insinua pelas ruas
livres de tudo.
E eu emitindo meu lamento mudo
sou nada para todos,
vento que não se sente!
Sou velho senil e doente
largado no fundo do poço do mundo!
Não durmo, não morro, não choro por mim...
Mas por todos aqueles malditos momentos em que deixei de ser um com os outros!
Por Alípio Lupicínio (1986)
Parado num canto qualquer,
feito espectro invisível,
espreito as multidões.
Vejo nelas a confusão das horas
e o horror dos tempos.
Escondido nas sombras
acompanho os rumores.
Das lamúrias mais tristes
aos mais loucos humores.
E sinto a vergonha de ser como é
este meu dissabor irascível
Como força maldita de poder incrível
que macula a carne como coágulo venal!
Mas, ó, que destino tão desigual
me separa dos insípidos fiéis desta horda
que se insinua pelas ruas
livres de tudo.
E eu emitindo meu lamento mudo
sou nada para todos,
vento que não se sente!
Sou velho senil e doente
largado no fundo do poço do mundo!
Não durmo, não morro, não choro por mim...
Mas por todos aqueles malditos momentos em que deixei de ser um com os outros!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Curiosidade, respondam por favor, em relação a literatura fantástica, li recentemente do mais conceituado teórico sobre o gênero que simplesmente não existe poesia no fantástico, que traduz essencialmente com a idéia de fantástico = ficção.
Ainda não terminei a leitura, que no geral estou gostando muito, mas diante dessa exclusão, e da falta de outras visões (ali na obra) para a poesia no campo do fantástico, gostaria de saber o que os amigos pensam sobre uma provável poética do fantástico.
Ainda não terminei a leitura, que no geral estou gostando muito, mas diante dessa exclusão, e da falta de outras visões (ali na obra) para a poesia no campo do fantástico, gostaria de saber o que os amigos pensam sobre uma provável poética do fantástico.
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
...................................
Última edição por Tânia Souza em Dom 8 Fev 2009 - 20:58, editado 1 vez(es)
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Eis o gore
Êxtase decadente
Formosa decomposição
Na arte da putrefação
Tânia Souza
Êxtase decadente
Formosa decomposição
Na arte da putrefação
Tânia Souza
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Tania, este tópico está mais devagar do que corrida de tartaruga! Rsrsrsrsr! Com certeza não há como concordar com este teórico do qual vc leu o texto, né! Todos sabemos que há sim poesia fantástica! Nem tem o que comentar. Esqueça esse livro por que tem alguma coisa errada com ele! Rrsrsrsrsrs!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Então lord Henry, a poesia sombria anda meio esquecida
Mas quanto ao teórico, trata-se de Tzvetan Todorov, considerado o "cara" na teoria do fantastico, a questão é que, até o ponto em que li o livro, ele indica o fantastico diretamente relacionado a ficção narrativa, e que a poesia deve ser abordado de outra forma, e simplesmente pula o assunto, mas sei que ele tem livros voltados especificamente ao caso da poesia, portanto ainda não tenho uma visão completa do pensamento dele, mas concordo com você, se no caso, a poesia nao for considerada como parte do fantastico, é um ponto de vista que nao compartilho com o autor de "Introdução a literatura fantastica", que, salvo essa particularidade em relaçao a poesia, estou gostando muito de ler!
Mas quanto ao teórico, trata-se de Tzvetan Todorov, considerado o "cara" na teoria do fantastico, a questão é que, até o ponto em que li o livro, ele indica o fantastico diretamente relacionado a ficção narrativa, e que a poesia deve ser abordado de outra forma, e simplesmente pula o assunto, mas sei que ele tem livros voltados especificamente ao caso da poesia, portanto ainda não tenho uma visão completa do pensamento dele, mas concordo com você, se no caso, a poesia nao for considerada como parte do fantastico, é um ponto de vista que nao compartilho com o autor de "Introdução a literatura fantastica", que, salvo essa particularidade em relaçao a poesia, estou gostando muito de ler!
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Sina
Um roto andarilho
Pedia-nos a licença
De uns versos contar
Enquanto o navio
No porto aguardava
E cede a espera ociosa
Lúgubre cantilena tomou lugar
Falou-nos o cantador
De mórbida noite
Onde embriagado
Em velha taverna sonhava
Quando ao vento mais forte
Um violinista triste chegou
Versos tristes a declamar
Era o violinista poeta
Servo da escuridão
E em macabro oficio
Seguia em poemas
De severa desolação
Eis então
Na noite trevosa
Naquela taverna ociosa
O nobre ouvinte
Em debochada ironia
Ironizou mórbida inspiração
Calado o violino
Deu-lhe um sorriso
E em rubro desatino
Lamentou os versos
Que gravei no coração
Gemiam cordas doloridas
E o poeta interrompia-se
E fitando o nobre crítico
Declamava em calma aflição
— Não, não sorrias
Dos meus versos pálidos
Não seja cruel delator
As poesias de sombra vestidas
São uma ode ao horror
Mas vão seguindo a noite
Revestindo-se de amor
Lembra-te do poeta que dizia
Não é para sorrir que se vive
Os murmúrios e lamentos
Que propicia-nos a vida
São prenúncios de eternos sofrimentos
A morte espreita
E nos caminhos que ceifa
Gargalha satisfeita
Tu, que ousas sorrir
Beijarás a lápide fria
Dos teus joelhos
Vermes se nutrirão
Em torturante angustias
Implorarás por perdão
Quando de tua carne
Não suportar a podridão
O inferno, ó criatura insípida!
Não é de chamas e demônios
Tua sina maldita
É ouvir a eternidade
Em tumba proscrita
E servir de alimento
Aos rastejantes irmãos
E cada vez que meu verso
Declamar-se sombrio
Aos murmúrios do violino
Tua sede em gotas se saciará
Esperarás ansioso
Como tantos esperam
Saberás destas lamúrias
Em sangrenta solidão
Túmulo em soturna eternidade
Eis o que a mórbida ceifadora
A ti reservando está
Por tão pródigos dias
Que por esta vida levas
Por eternas eras
Turvos pensamentos
Ao hálito da podridão
Serão teus tormentos
Feita a sombria previsão
O violinista triste partiu
Minha saga meu destino
A ironia minha decidiu
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
E assim dizendo
Com lágrima sentida
O enrouquecido poeta
Andarilho solitário
Sumiu na escuridão
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
...De romper a maldição...
a maldição
Tânia Souza
Um roto andarilho
Pedia-nos a licença
De uns versos contar
Enquanto o navio
No porto aguardava
E cede a espera ociosa
Lúgubre cantilena tomou lugar
Falou-nos o cantador
De mórbida noite
Onde embriagado
Em velha taverna sonhava
Quando ao vento mais forte
Um violinista triste chegou
Versos tristes a declamar
Era o violinista poeta
Servo da escuridão
E em macabro oficio
Seguia em poemas
De severa desolação
Eis então
Na noite trevosa
Naquela taverna ociosa
O nobre ouvinte
Em debochada ironia
Ironizou mórbida inspiração
Calado o violino
Deu-lhe um sorriso
E em rubro desatino
Lamentou os versos
Que gravei no coração
Gemiam cordas doloridas
E o poeta interrompia-se
E fitando o nobre crítico
Declamava em calma aflição
— Não, não sorrias
Dos meus versos pálidos
Não seja cruel delator
As poesias de sombra vestidas
São uma ode ao horror
Mas vão seguindo a noite
Revestindo-se de amor
Lembra-te do poeta que dizia
Não é para sorrir que se vive
Os murmúrios e lamentos
Que propicia-nos a vida
São prenúncios de eternos sofrimentos
A morte espreita
E nos caminhos que ceifa
Gargalha satisfeita
Tu, que ousas sorrir
Beijarás a lápide fria
Dos teus joelhos
Vermes se nutrirão
Em torturante angustias
Implorarás por perdão
Quando de tua carne
Não suportar a podridão
O inferno, ó criatura insípida!
Não é de chamas e demônios
Tua sina maldita
É ouvir a eternidade
Em tumba proscrita
E servir de alimento
Aos rastejantes irmãos
E cada vez que meu verso
Declamar-se sombrio
Aos murmúrios do violino
Tua sede em gotas se saciará
Esperarás ansioso
Como tantos esperam
Saberás destas lamúrias
Em sangrenta solidão
Túmulo em soturna eternidade
Eis o que a mórbida ceifadora
A ti reservando está
Por tão pródigos dias
Que por esta vida levas
Por eternas eras
Turvos pensamentos
Ao hálito da podridão
Serão teus tormentos
Feita a sombria previsão
O violinista triste partiu
Minha saga meu destino
A ironia minha decidiu
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
E assim dizendo
Com lágrima sentida
O enrouquecido poeta
Andarilho solitário
Sumiu na escuridão
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
— E desde então sigo a sina
De romper a maldição...
...De romper a maldição...
a maldição
Tânia Souza
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
Silencioso desencanto
Para Celly Borges
As borboletas estão mortas
No que antes foi jardim
Eram azuis aquelas asas
Agora estilhaçadas
Chovem pétalas carmim
Tristeza espalhando blues
Tudo é tão cinza
É tão triste estar aqui
Nestes labirintos nus
O algodão-doce está rubro
Da groselha derramada
Em meu olhar rubi
Esperança acabou
O nada me consome
Oh, Serafins tristonhos
Fugitiva de mim estou
As borboletas estão mortas
Sozinha neste oscuro enigma
E ainda que o olhar não desvende
O que chamam vida
Contornos de tristeza secular
E do que a escuridão me toma de sentidos
Nostalgias de séculos antigos
Por dentro da menina dos olhos
Ainda olho-me
Em busca do azul
E nas estrelas errantes
Teço quimeras
Sou apenas prisioneira
Desse mundo estranho
Sonhando sonhos
De adormecer
Sem despertar
E o azul rompe-se
Estilhaçando a tarde morna,
Nas fotografias que a brisa carrega
Dolência de dias proibindo céu
As borboletas estão mortas
Cobrem-me as pétalas
Destes vôos interrompidos
Tânia Souza
Para Celly Borges
As borboletas estão mortas
No que antes foi jardim
Eram azuis aquelas asas
Agora estilhaçadas
Chovem pétalas carmim
Tristeza espalhando blues
Tudo é tão cinza
É tão triste estar aqui
Nestes labirintos nus
O algodão-doce está rubro
Da groselha derramada
Em meu olhar rubi
Esperança acabou
O nada me consome
Oh, Serafins tristonhos
Fugitiva de mim estou
As borboletas estão mortas
Sozinha neste oscuro enigma
E ainda que o olhar não desvende
O que chamam vida
Contornos de tristeza secular
E do que a escuridão me toma de sentidos
Nostalgias de séculos antigos
Por dentro da menina dos olhos
Ainda olho-me
Em busca do azul
E nas estrelas errantes
Teço quimeras
Sou apenas prisioneira
Desse mundo estranho
Sonhando sonhos
De adormecer
Sem despertar
E o azul rompe-se
Estilhaçando a tarde morna,
Nas fotografias que a brisa carrega
Dolência de dias proibindo céu
As borboletas estão mortas
Cobrem-me as pétalas
Destes vôos interrompidos
Tânia Souza
Re: POÉTICA DAS SOMBRAS
A Cal
A maciez no delicado toque com a pele suave
e a ressecando por inteiro.
Forma a tão sonhada construção perfeita
e suga a água que formava a inferior existência.
Poderia simbolizar a vida,
Poderia simbolizar a morte
Tão branca, tão pura...
e queima e desintegra.
A maciez no delicado toque com a pele suave
e a ressecando por inteiro.
Forma a tão sonhada construção perfeita
e suga a água que formava a inferior existência.
Poderia simbolizar a vida,
Poderia simbolizar a morte
Tão branca, tão pura...
e queima e desintegra.
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