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NECRÓPOLE - Espaço para a interação e convivência social virtual entre escritores de literatura fantástica. (OITAVO TÓPICO - ABERTO)

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Mensagem por Pacheco Sex 3 Dez 2010 - 20:20

Foi publicada uma nota sobre meu livro no site Outra Coisa!

Dêem uma conferida!

http://www.outracoisa.com.br/2010/12/03/o-fantasma-do-mare-dei/
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Mensagem por Tânia Souza Sex 3 Dez 2010 - 22:45

Salve Pacheco, já conferi, ficou bem legal.

Já havia feito uma postagem do livro no Descaminhos, mas daqui uns dias vamos fazer outra no A Litfan.
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Mensagem por Tânia Souza Sex 3 Dez 2010 - 23:28

e o Contos Grotescos tá cheio de contos novos e o senhor Paulo nem avisou né mocinho, tsc tsc, passei por lá hoje, heheh
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Mensagem por ramonbacelar Sáb 4 Dez 2010 - 8:38

Bom dia pessoal!!
Tem conto novo no recanto.

Reflexões lamentosas à beira do abismo (um miniconto de auto ajuda involuntária):
http://recantodasletras.uol.com.br/contosdeterror/2652605


Dia de Festa:
http://blogcontosgrotescos.blogspot.com/


Outros contos:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=72546&categoria=13&lista=lidos



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Mensagem por Barreto Sáb 4 Dez 2010 - 13:33

Tânia, parabéns pela colocação no concurso da Masmorra do Terror. O título está em boas mãos! Very Happy

É isso aí, Bordin. Levará botinas nos miolos. E a Celly é quem vai "botinar"! rsrsrsrs
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Mensagem por Pacheco Sáb 4 Dez 2010 - 13:49

Tânia Souza escreveu:Salve Pacheco, já conferi, ficou bem legal.

Já havia feito uma postagem do livro no Descaminhos, mas daqui uns dias vamos fazer outra no A Litfan.

Valeu Tânia! Obrigadão mesmo! Será uma honra!
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 4 Dez 2010 - 14:01

Opa, é só mandar o material de divulgação para meu e-mail, poderia ser com um trechinho de degustação, um inédito e bem chamativo, geralmente fica bem legal, com o endereço do video e tals, quando você quiser mocinho.


ah, Personas, texto novo, espaço novo, apareçam.

Você tem medo do quê?


vou fazer uma série de textos sobre o terror, temas, personagens, cenários, narradores... e o que mais surgir..

lembrei que sempre comentava com Henry sobre a preferência sobre o dia e a noite, que viamos poucas narrativas se passando durante o dia, conforme o nosso amigo, a Clareira dos esquecidos iria trazer uma segunda parte de terror durante o dia.

Alguém se lembra de contos de terror durante o dia??
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Mensagem por Pacheco Sáb 4 Dez 2010 - 15:34

Hei amigos!
Hoje fiz vestibular para Pedagogia e a redação, diferentemente do que eu estava acostumado, devia ser a continuidade de um fragmento de um texto do Moacyr Scliar, que segue:

Voltava do trabalho para o pequeno apartamento em que agora morava, comia alguma coisa e em seguida tinha de sair: não suportava a solidão.

Ficava horas vagando pela rua, mesmo sabendo do perigo que isso representava, e talvez por causa do perigo que isso representava: pouco lhe importava o risco de assalto, pelo menos representaria algo de novo em sua vida monótona.

E aí veio o inverno, e as noites geladas, mas mesmo assim saía para suas caminhadas. Numa noite, a temperatura caiu demais e ela, mal abrigada, começou a tremer de frio.

Eis meu texto:
Encolheu-se como pode, sua respiração condensava em frente ao seu rosto. Foi quando percebeu a presença de outra pessoa, um mendigo, deitado no banco da praça, com seus olhos cintilantes e inquiridores a lhe observar.
Sentiu a necessidade de voltar para casa, talvez o frio aguçasse seu medo, há tempos a-dormecido. Fez menção de levantar-se do banco, mas o mendigo dirigiu-lhe a palavra.
– O que uma moça tão bem apessoada e tão bem vestida faz sozinha numa noite tão desgraçadamente fria?
– Não sei... – balbuciou ela.
– Estás perdida? – perguntou o mendigo.
– Talvez... – respondeu acremente. Em seguida, levantou-se e caminhou sem interesse.
– Se tens uma casa, convém que vás para ela. É demasiado perigoso estar sozinho nos dias de hoje. – aconselhou o mendigo.
Como ela sabia disso! Chegou ao seu prédio, subiu as escadas e girou a chave na fechadura. Olhou as crianças e o marido e sorriu, mas isso não combinava com seu rosto, tal qual uma pixação num quadro de Portinari. A pior solidão é aquela que se sente em meio a uma multidão.
O que acharam?
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Mensagem por Tânia Souza Dom 5 Dez 2010 - 12:13

Barreto, valeu, acho que estou melhorando com os contos minimalistas, entre este e o que mandei para o Estronho ano passado senti uma boa diferença, esse ano tem novo concurso no Estronho, agora estou louca para publicar o meu para ver o que vcs acharam.

Pacheco, estou lendo e já vou comentar.
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Mensagem por Tânia Souza Dom 5 Dez 2010 - 12:23

Gostei bastante do texto, ficou melancólico, deu sequência ao texto inicial e abordou a ideia da solidão e da estranheza que o texto base oferecia, isso fez muito bem.

O número de linhas confere?

Agora, só algumas questões que talvez sejam avaliadas.

Você não comentou que ela estava sentada no banco quando se levantou. ( Se eu estivesse corrigindo, não iria avaliar isso, mas alguns corretores sim);

A linguagem do mendigo, tão formal, me causou algum espanto na primeira leitura, mas não há nada que impeça um mendigo de falar dessa maneira, portanto, não se trata de um erro.

a-dormecido foi erro de digitação ou você escreveu assim mesmo lá?

Gostei muito da ideia de estar sozinho ser um perigo hoje em dia e ela saber disso muito bem, e confirmar isso entrando em casa, junto com a famíla, estando sempre só, bem sacado Pacheco.
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Mensagem por Pacheco Dom 5 Dez 2010 - 20:55

Tânia Souza escreveu:Gostei bastante do texto, ficou melancólico, deu sequência ao texto inicial e abordou a ideia da solidão e da estranheza que o texto base oferecia, isso fez muito bem.

O número de linhas confere?

Agora, só algumas questões que talvez sejam avaliadas.

Você não comentou que ela estava sentada no banco quando se levantou. ( Se eu estivesse corrigindo, não iria avaliar isso, mas alguns corretores sim);

A linguagem do mendigo, tão formal, me causou algum espanto na primeira leitura, mas não há nada que impeça um mendigo de falar dessa maneira, portanto, não se trata de um erro.

a-dormecido foi erro de digitação ou você escreveu assim mesmo lá?

Gostei muito da ideia de estar sozinho ser um perigo hoje em dia e ela saber disso muito bem, e confirmar isso entrando em casa, junto com a famíla, estando sempre só, bem sacado Pacheco.

Obrigado pelos comentários Tânia!
Sobre o lance do banco, eu achei que tinha ficado subentendido... Vou ter de melhorar esse tipo de coisa no meu texto, obrigado pelo toque!
A linguagem formal que eu usei para o mendigo foi para causar estranheza mesmo, tanto quanto o fato da mulher ser casada e ter filhos e mesmo assim se sentir sozinha, uma espécie de depressão. Já ouvi histórias sobre mendigos que tiveram muita coisa na vida, educação de qualidade, e acabaram na rua. Eu quis dar essa impressão no texto, e também causar a dúvida se ele na verdade não era algo sobrenatural, um anjo (gosto de usar esse recurso) e que no final das contas abriu os olhos dela para o fato de mesmo diante de todos os problemas que pudesse estar enfrentando, mesmo em depressão, ela tinha uma família.
"O estar sozinho ser um perigo" é sobre como fica tudo muito mais difícil quando a pessoa se acha autosuficiente. Ninguém é. Quis dar um duplo sentido sobre isso e a segurança pública.
Acho que foi isso. O hífen, ou tec, como a gente chama na marinha, foi porque eu digitei no word e depois colei aqui. Tenho o costume de hifenizar todos os meu textos e de vez em quando acontece esses probleminhas... hehehe!
O número de linhas escritas foi 25, aqui ficou menor um pouco.

Mais uma vez, obrigado pelo comentário e até mais!
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Mensagem por Tânia Souza Seg 6 Dez 2010 - 12:46

Pacheco, eu não disse, mas tenho certeza, vai ter boa nota, o texto ficou legal.
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Mensagem por Tânia Souza Seg 6 Dez 2010 - 14:13

Pacheco, preciso do seu email, er, nao sei se eu tinha, tenho, mas nao achei, entao, mandar pra mim ok? o meu é tania.mara.ms@gmail.com


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Mensagem por Barreto Ter 7 Dez 2010 - 9:17

Amigos, estou na tradicional correria, mas passo por aqui para avisar que nosso amigo Paulo organizou uma coletânea intitulada Mestres do Horror e esta foi publicada na Galiza. É o membro do baronato baiano alçando novos voos! Eita cabra da peste!!! rsrsrsrs São traduções de mestres da literatura de terror como Poe, Bierce, Lovecraft, Maupassant etc. Em breve postarei a capa aqui para todos verem. E o membro do baronato baiano está temporariamente sem internet!

Saudações.

Depois volto com mais calma.
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Mensagem por Poleto Ter 7 Dez 2010 - 9:28

Eu também estou na correria. Muita correria.
Semana de provas, semana que vem tem as finais, enfim... vou ficar um pouco sumido até lá...
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Mensagem por Pacheco Ter 7 Dez 2010 - 11:06

Tânia Souza escreveu:Pacheco, preciso do seu email, er, nao sei se eu tinha, tenho, mas nao achei, entao, mandar pra mim ok? o meu é tania.mara.ms@gmail.com

Fala revisora!

Teu e-mail chegou, é que estou no trabalho e não tive tempo para lê-lo, fazendo somente agora há pouco, quando encontrei uma brecha para isso.

Muitíssimo obrigado!
Obrigado pela nota na redação também, valeu! P)
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Mensagem por Pacheco Ter 7 Dez 2010 - 11:24

ah!
Queria postar aqui O TIro Final, um conto de suspense de Conan Doyle para que vocÊs lessem, mas ainda não consegui. Se puderem, o leiam antes que eu o faça. Tenho absoluta certeza de que vocês gostarão!
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Mensagem por Lino França Jr. Qua 8 Dez 2010 - 9:31

Barreto escreveu:Amigos, estou na tradicional correria, mas passo por aqui para avisar que nosso amigo Paulo organizou uma coletânea intitulada Mestres do Horror e esta foi publicada na Galiza. É o membro do baronato baiano alçando novos voos! Eita cabra da peste!!! rsrsrsrs São traduções de mestres da literatura de terror como Poe, Bierce, Lovecraft, Maupassant etc. Em breve postarei a capa aqui para todos verem. E o membro do baronato baiano está temporariamente sem internet!

Saudações.

Depois volto com mais calma.

Muito interessante... e curioso para ler o livro.

Amigos, alguém , além do Poleto, estava assistindo à série da Fox: "The Walking Dead" ?? A série até estava indo bem, mas a primeira temporada só teve 6 (?!?!?) episódios... Mad
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Mensagem por Lino França Jr. Qua 8 Dez 2010 - 9:35

Publiquei os dois contos vencedores do II Concurso do Masmorra:

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Mensagem por Poleto Qua 8 Dez 2010 - 9:45

Lino França Jr. escreveu:
Amigos, alguém , além do Poleto, estava assistindo à série da Fox: "The Walking Dead" ?? A série até estava indo bem, mas a primeira temporada só teve 6 (?!?!?) episódios... Mad

Exatamente, Lino. Apenas 6 episódios. Agora, é aguardar até outubro do ano que vem para a segunda temporada. Sad
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Mensagem por Lino França Jr. Qua 8 Dez 2010 - 12:27

Poleto escreveu:
Lino França Jr. escreveu:
Amigos, alguém , além do Poleto, estava assistindo à série da Fox: "The Walking Dead" ?? A série até estava indo bem, mas a primeira temporada só teve 6 (?!?!?) episódios... Mad

Exatamente, Lino. Apenas 6 episódios. Agora, é aguardar até outubro do ano que vem para a segunda temporada. Sad

Putz, daqui há um ano nem vou me lembrar da primeira temporada... Suspect
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Mensagem por Pacheco Qua 8 Dez 2010 - 21:12

Lino França Jr. escreveu:
Poleto escreveu:
Lino França Jr. escreveu:
Amigos, alguém , além do Poleto, estava assistindo à série da Fox: "The Walking Dead" ?? A série até estava indo bem, mas a primeira temporada só teve 6 (?!?!?) episódios... Mad

Exatamente, Lino. Apenas 6 episódios. Agora, é aguardar até outubro do ano que vem para a segunda temporada. Sad

Putz, daqui há um ano nem vou me lembrar da primeira temporada... Suspect

Com certeza!
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Mensagem por Pacheco Qua 8 Dez 2010 - 21:42

Desculpem, talvez não seja o espaço, mas vou postar aqui por não ter em mente onde postar. Esse é o conto do Conan Doyle de que eu falei:

O Tiro Final

Esta é a íntegra de um anúncio que deve ter sido visto por muitos leitores nas colunas dos matutinos de Londres na primeira metade do ano corrente. Acredito, inclusive, que tenha suscitado uma razoável curiosidade em certos meios, e diversos palpites foram oferecidos quanto a identidade de Octavius Caster e a natureza das acusações que contra ele pesavam. Quando afirmo que o "aviso" foi publicado por meu irmão mais velho, Arthur Cooper Underwood, advogado e meu representante legal, espero o meu reconhecimento como a pessoa mais capacitada a fazer um esclarecimento autêntico a respeito dos motivos que nos levaram a procurar os jornais.
Até aqui o horror e a vacuidade das minhas suspeitas, aliados ao sofrimento da perda de meu querido noivo na véspera do nosso casamento, me impediram de revelar estes fatos. Entretanto, agora, rememorando tudo, encontro uma ligação entre muitos pequenos detalhes que a época passaram quase desapercebidos e que formam uma cadeia de evidências capazes de instigar a imaginação do publico, embora inútil num tribunal de justiça. Relatarei, portanto, sem exagero ou preconceito, tudo o que ocorreu desde o dia em que este homem, Octavius Caster, entrou em Toynby Hall até a realização do grande torneio de tiro. Eu sei que muita gente ridiculariza o sobrenatural, ou o que nossos pobres intelectos preferem considerar sobrenatural, e que o fato de ser eu uma mulher, contribuíra ainda mais para reduzir o impacto das minhas palavras. Só posso jurar aqui que nunca fui uma mulher impressionável ou fraca de espírito, e que outros cidadãos vieram a partilhar da mesma opinião que formei acerca de Octavius Caster. Agora, a história.
Era na casa do Coronel Pillar, em Roborough, no aprazível condado de Devon, que passávamos os feriados de outono. Nesta ocasião, eu estava noiva de seu filho mais velho, Charley, há alguns meses, e esperávamos marcar o casamento para antes do término das ferias de verão. Ninguém duvidava de que Charley conseguiria o diploma, e de todo modo era rico o bastante para viver uma vida independente, enquanto que eu mesma não fora abandonada pela sorte. O velho Coronel estava satisfeitíssimo com a perspectiva do matrimonio, assim como a minha mãe. Para onde quer que olhássemos, não havia o menor sinal de nuvens no horizonte. Ninguém duvide, portanto, se eu disser que passamos um mês de agosto encantador. Até o mais desgraçado dos mortais teria posto suas penas de lado sob a influência feliz dos moradores de Toynby Hall.
Lá estava o Tenente Daseby, ou "Jack", como era invariavelmente chamado, recém-vindo do Japão no navio Shark da marinha de Sua Majestade, e que desfrutava de uma situação igual a nossa com Fanny Pillar, irmã de Charley, de maneira que dávamos uma espécie de apoio moral uns aos outros.
Lá estava, também, Harry, irmão mais novo de Charley, e Trevor, seu melhor amigo em Cambridge.
Por fim, lá estava a minha mãe, a mais doce de todas as mães, observando-nos deliciada através de seus óculos de aro de ouro, aparando solicita todas as arestas que surgissem entre os dois casais, e sempre disposta a expor a eles suas próprias duvidas e medos e perplexidades quando o jovem e atlético Mr. Nicholas Under¬wood foi cortejá-la nas províncias e esqueceu das filhas de Crockford e Tattersall pelo amor da filha de um ministro religioso do interior.
Não posso, contudo, esquecer o velho e galante guerreiro que era o nosso anfitrião; com suas piadas antigas, sua gota e sua pose inofensiva de bicho feroz.
— Não sei o que anda acontecendo com o velho ultimamente — comentava Charley. — Ele não xingou a administração Liberal uma única vez desde que você veio para cá, Lottie; e eu acho que se ele não arranjar um meio de descarregar a irritação bem depressa, a questão irlandesa tomara conta do organismo do meu pobre pai, ai, será o fim.
Talvez na privacidade de seus aposentos o veterano militar aproveitasse para compensar a auto-abnegação do dia. Ele parecia gostar de mim com um jeito todo especial, me dedicando uma infinidade de pequenas gentilezas e atenções.
— Você e uma boa menina — comentou ele certa noite, depois de ter bebido muito vinho do Porto. — Que sujeito sortudo, o Charlie! Ele tem mais bom gosto do que eu imaginava. Anote bem as minhas palavras, Miss Underwood: a senhorita descobrira que esse jovem cavalheiro não e tão bobo quanto parece!
Feito este elogio torto, o Coronel cobriu o rosto solenemente com o seu lenço e mergulhou na terra dos sonhos.
Nunca hei de esquecer o dia em que começou a nossa desgraça! O jantar havia terminado, e estávamos na sala de estar, com todas as janelas abertas, para que entrasse a brisa odorosa do sul. Minha mãe se sentara num canto, entregue aos seus bordados, que só largava para nos ofertar, de vez em quando, um dos seus truísmos que, aquela alma bondosa, se afiguravam como comentários originalíssimos, fundados exclusivamente na sua experiência pessoal. Fanny e o Tenente estavam de namorico no sofá, enquanto Charley andava de um lado para o outro, impaciente. Eu me sentara a janela, olhando sonhadora para as grandes florestas de Dartmoor, que se estendiam até a linha do horizonte, douradas e luminosas a luz do sol poente, exceto onde uns poucos outeiros impunham seu contorno forte contra o fundo vermelho de céu.
— Não dá, não dá — disse Charley, vindo até perto de mim na janela. — E uma vergonha desperdiçar um entardecer como este assim sem fazer nada.
— Que se dane o entardecer! — exclamou Jack Daseby. — Você está sempre se martirizando com as horas. Fan e eu não saímos daqui por nada neste mundo; não é verdade, Fan?
A mocinha anunciou a sua intenção de permanecer aninhada entre as almofadas, olhando desafiadora para o irmão.
Esses namorados apaixonados são uma coisa desmoralizante, você não acha, Lottie? — perguntou Charley zombeteiro.
Vexaminosos — respondi.
E eu me lembro de quando Daseby era o sujeito mais ativo de Devon; olhe só para ele agora! Fanny, Fanny, veja só o que você fez deste homem!
Não ligue para ele, meu rapaz — disse minha mãe de seu cantinho. — Mesmo assim, a experiência me ensinou que a moderação e uma qualidade preciosa nos moços. O falecido Nicholas também pensava assim. Ele nunca se deitava a noite sem antes ter pulado de um lado a outro do tapete da sala. Eu costumava chamar a sua atenção para o perigo, mas ele não ligava, Até que uma noite caiu sobre o guarda-fogo e distendeu um músculo da perna; depois, ele mancou até o dia da morte, porque o Doutor Pearson pensou que fosse uma fratura óssea e colocou uma tala, e a tala endureceu a articulação do joelho.
Minha mãe tinha uma capacidade incrível de divagação e, freqüentemente, perdia-se em casos paralelos sem conseguir encontrar o caminho de volta ao assunto do comentário. Nesta ocasião, porem, Charley o havia guardado na memória, pois vira a possibilidade de aplicação imediata.
— Uma observação excelente, Mrs. Underwood — admitiu ele. — Nos sequer pusemos os pés fora de casa hoje. Lottie, ainda temos uma hora de sol. Que tal irmos pescar trutas? Se a sua mãe não tiver objeções, é claro!
— Ponha alguma coisa no pescoço, querida — disse minha mãe, percebendo que fora vencida com seus próprios argumentos.
— Esta bem, mamãe — respondi. — Vou dar um pulo no quarto para trazer o meu chapéu, também.
— E uma boa idéia; quando voltarmos, já vai estar quase escuro — disse Charley, enquanto eu me encaminhava para a porta.
Quando desci, encontrei meu noivo aguardando impaciente com seus apetrechos de pesca no saguão. Atravessamos juntos os jardins e passamos por baixo dos janelões abertos da sala de estar, onde três rostos irônicos nos contemplavam.
— Esses namoros apaixonados são uma coisa desmoralizante — disse Jack, olhando pensativo para as nuvens.
— Vexaminosos — acrescentou Fan.
E os três riram até o ponto de acordarem o cansado Coronel; ouvimos, lá de fora, os esforços que eles faziam para explicar ao veterano pouco habituado a sutilezas o motive da brincadeira. Aparentemente, nada seria capaz de fazê-lo apreciar a piada.
Descemos juntos o caminhozinho cheio de curvas e atravessamos o portão de madeira que da para Tavistock Road. Charley diminuiu o passo, já do outro lado, como se indeciso quanto ao rumo que tomar. Se ao menos soubéssemos que o nosso destino dependia de uma coisa tão trivial!
Vamos seguir até o rio, querida, ou você prefere um dos regatos da charneca?
Como você quiser — respondi.
— Então eu voto pela charneca. Assim, o trajeto será mais longo depois que a noite cair.
Charley lançou um olhar amoroso a figurinha de xale branco que o acompanhava.
O regato a que ele se referia atravessava uma região quase desértica do condado; pela trilha que escolhemos, ele ficava a algumas milhas de Toynby Hall; mas como éramos jovens e saudáveis, seguimos em frente apesar das pedras e dos espinheiros. Não encontramos nenhuma criatura viva durante o nosso percurso solitário, a não ser alguns carneiros magricelas de Devonshire que nos espiavam assustados e nos seguiam por dois ou três minutos, como se curiosos com os motivos que nos levavam a invadir seus domínios. Estava quase escuro quando atingimos o regato, que desce rumorejante de uma ravina escarpada e corre em meandros até, a distância, desaguar no Plymouth. Acima de nos erguiam-se duas grandes colunas de pedra, entre as quais a água escorria lenta para formar um laguinho parado e fundo. O laguinho sempre fora um dos lugares preferidos de Charley, e a luz do, dia era um recanto gracioso; mas agora, com a lua nascente refletida em suas águas espelhadas e atirando sombras escuras con¬tra as rochas suspensas, ele parecia tudo menos um lo¬cal de encontro de duas pessoas apaixonadas.
— Para dizer a verdade, querida, acho que não vou pescar — confessou Charley enquanto nos sentávamos a margem do laguinho, sobre o limo. — E um lugar esqui-sito, a esta hora, não e?
— Muito! — confirmei.
Um calafrio me correu pelas costas.
Vamos só conversar, descansar um instante, e depois retornamos pelo mesmo caminho. Você esta tremendo! Não é frio, é?
Não — confessei, tentando ativar a coragem. — Não e frio. Eu estou assustada. Bobagem minha.
Bobagem? Não sei. Eu entendo. Também estou me sentindo meio deprimido aqui. O barulho da água mais parece o ronco da garganta de um moribundo.
Pare, Charley! Você quer me matar de medo?
Esta bem, esta bem, querida. Não vamos deixar que isto aqui atrapalhe a nossa felicidade — disse ele, sorrindo e tentando me reconfortar. — Vamos fugir logo deste ossuário e... Olhe! Veja!... Nossa! O que e aquilo?
Charley recuara, e olhava para cima pálido como o nada. Segui a direção dos seus olhos, e mal contive um grito.
Eu já mencionei que o laguinho onde nos encontra-vamos fica na base de uma escarpa. No alto dessa escarpa, uns sessenta pés acima das nossas cabeças, aparecera uma figura alta, sombria, que aparentemente nos observava sem que tivéssemos nos dado conta. A lua acabara de apontar acima do vale, e o contorno magro e anguloso do estranho se destacava nítido e claro contra o seu brilho de prata.
Havia algo de fantasmagórico no aparecimento súbito e silencioso daquele homem desconhecido, ainda mais quando associado a natureza rara do cenário. Agarrei-me ao meu noivo aterrorizada, sem voz, com o olhar grudado na figura que nos via do alto.
— Olá, como vai? — berrou Charley com irritação.
Ele passara num segundo do medo a raiva, como e costume entre os ingleses.
Quem e você? O que você esta fazendo ai? Diga logo!
Eu sabia! Eu sabia! — disse o homem que nos observava, e desapareceu da nossa vista.
Ouvimos seus passes tateantes entre as pedras soltas, e em poucos minutos ele surgiu as margens do regato com o mesmo olhar fixo sobre nos. For mais pavorosa que tivesse sido a sua aparência quando o percebemos da primeira vez, a impressão se intensificava — e não se diluía — com a proximidade. A lua que o banhava em cheio revelava um rosto fino e comprido, de uma palidez doentia, e este efeito era acentuado ainda mais pelo contraste com a sua gravata verde berrante. Uma cicatriz no lado da face havia sido mal curada e repuxava a boca para cima num dos cantos, distorcendo todas as suas feições, principalmente quando ele tentava sorrir. A mochila nas suas costas e o cajado grosso nas suas mãos o denunciavam como turista, enquanto a graça com que retirou o chapéu ao notar a presença de uma senhorita mostrava que ele possuía o savoir faire de um homem do mundo. Havia um que nas suas proporções angulares e no seu rosto lívido que, visto em conjunto com a capa preta que pendia dos seus ombros, me fez recordar estranhamente o morcego-vampiro que Jack Daseby trouxera do Japão em sua viagem anterior e que era o bicho-papão do refeitório da criadagem em Toynby.
— Mil desculpas pela intromissão — disse ele, com um leve sotaque estrangeiro, que emprestava uma beleza peculiar a sua voz. — Eu seria obrigado a dormir na charneca se não tivesse a boa sorte de encontrá-los aqui.
— Que historia e esta! — esbravejou Charley. — For que você não chamou e nem nos deu algum aviso de que estava lá? Miss Underwood ficou assustada, e com toda razão.
O estranho fez mais uma mesura com o chapéu desculpando-se por ter provocado o constrangimento.
— Eu sou um viajante sueco — prosseguiu ele, com a mesma entonação curiosa — e estou de visita a este seu lindo pais. Permita-me que me apresente: sou o Doutor Octavius Gaster. Talvez o senhor saiba me dizer onde posso dormir, e como se sai desta região, que e enorme e pouco habitada.
Foi muita sorte sua nos encontrar — disse Char¬ley. — Não e nada fácil atravessar a charneca.
Nem me diga! — confirmou o nosso novo conhecido.
Muita gente de fora já foi achada morta por aqui — prosseguiu Charley. — As pessoas se perdem e andam em círculos até tombarem fatigadas.
Ha! Ha! — riu o sueco. — Logo eu, que vaguei em barco aberto entre o Cabo Branco e as Canárias morrer de fome numa charneca inglesa! Mas onde e que ha uma hospedaria por aqui?
Ouça! — disse Charley, cujo interesse fora despertado pela alusão do estranho e que, normalmente, era o mais cordial de todos os homens. — Não existe hospedaria num raio de muitas milhas; e eu suponho que você já tenha caminhado bastante hoje. Venha a nossa casa e meu pai, o Coronel, ficara encantado de conhecê-lo. Não lhe faltara uma cama para dormir.
Como posso agradecer a tanta gentileza da sua parte? — quis saber o viajante. — Eu só sei que quando voltar a Suécia levarei boas historias dos ingleses e de sua hospitalidade!
Bobagem! disse Charley. — Vamos andando, pois Miss Underwood esta com frio. Enrole bem o xale no pescoço, meu bem. Não demoramos a chegar em casa.
Seguimos em silêncio, tropeçando aqui e ali, mantendo-nos o mais longe possível da trilha pedregosa, perdendo-a de vista vez por outra quando uma nuvem cobria a face da lua e tornando a vê-la mais além com o retorno da luz. O estranho parecia imerso em pensamentos, porém tive a impressão de que me estudava no escuro, enquanto andávamos os três lado a lado. Eu não gostei.
Quer dizer que você ficou a deriva num barco aberto? — perguntou Charley, rompendo enfim o silêncio.
Ah, sim, e verdade — respondeu o estranho. — Eu já vi muita coisa na vida, e já venci muitos perigos, mas nenhum maior do que este. Porem o assunto e triste demais para os ouvidos de uma dama. Eu já lhe pus muito medo hoje.
Não precisa ter receio de me assustar agora — disse eu, apoiando-me no braço de Charley.
Compreendo. Mas ha tão pouco a contar, e tudo tão triste! Um amigo meu, Karl Osgood, de Upsala, e eu próprio, abrimos uma firma comercial. Poucos homens brancos conviveram com os mouros de Cabo Branco até hoje, mas apesar disso resolvemos ir e durante alguns meses estivemos lá, vendendo isto ou aquilo, e amealhando marfim e ouro. E uma terra estranha, onde não ha madeira nem pedra; as casas são feitas com plantas marinhas. Quando afinal achamos que já tínhamos ganhado o bastante, os mouros conspiraram para nos matar, e nos atacaram durante a noite. Apesar da surpresa, conseguimos fugir até a praia e pular numa canoa. Pusemo-nos ao mar, deixando tudo para trás. Os mouros nos perseguiram, poréma escuridão nos ajudou a despistá-los; quando o dia amanheceu, não havia mais terra a vista. Antes das Canárias, não tínhamos nenhuma esperança de obter abrigo ou alimento, e foi para lá que seguimos. Eu cheguei vivo, embora muito fraco e quase louco; meu pobre amigo Karl faleceu um dia antes das ilhas surgirem no horizonte. Eu bem que avisei! Não tenho culpa nenhuma pelo que aconteceu. Eu disse: "Karl, a forca que você vai ganhar comendo-as não compensa a perda de sangue!" Ele riu das minhas preocupações, retirou o facão do meu cinto, cortou as duas, comeu, e morreu.
Comeu o que? — perguntou Charlie.
As orelhas — explicou o estranho.
Eu e Charley nos entreolhamos horrorizados. Não havia nem sombra de sorriso no rosto sério do viajante. Não era uma brincadeira.
— Ele era um sujeito teimoso — prosseguiu. — Mas ele sabia que uma coisa daquelas nunca poderia dar certo. Se tivesse usado a vontade, ele teria sobrevivido como eu sobrevivi.
E você acha que a vontade de um homem pode evitar que ele sinta fome? — perguntou Charley.
O que não pode fazer a vontade? — retrucou Octavius Caster, e tornou a se fechar em silêncio até que chegamos enfim a Toynby Hall.
A nossa demora dera motivo a um quase alarme, e Jack Daseby estava prestes a partir com Trevor, amigo de Charley, para nos procurar. E de se imaginar, portanto, a alegria e o alivio que sentiram ao nos verem chegar sãos e salvos. Não foi menor o espanto causado pelo nosso acompanhante.
Onde e que vocês foram arranjar este cadáver de segunda-mão? — perguntou Jack, levando Charley para um canto do salão de fumar.
Shhhh. Ele não e surdo — reclamou Charley. — E um medico sueco em viagem pela Inglaterra, e um ótimo sujeito também. Ele viajou num bote de Nao-sei-onde para Outro-lugar-qualquer. Eu lhe ofereci pouso por esta noite.
Está bom. Mas uma coisa eu garanto: um rosto daquele não faz a fortuna de ninguém!
— Ha! Ha! Perfeito... perfeito! — riu-se o alvo da observação, vindo calmamente para junto de nós para desespero do marujo falastrão. — Não; corno vocês dizem aqui, ele nunca fará a minha fortuna.
O homem começava a se sentir a vontade, e sorriu até que o talho medonho do seu rosto o fizesse parecer o reflexo de um espelho quebrado mais do que qualquer outra coisa.
— Suba e tome um banho; eu lhe empresto um par de chinelos — disse Charley, expulsando o estranho do salão com gentileza e pondo fim a uma situação até certo ponto embaraçosa.
O Coronel Pillar era um modelo de hospitalidade, e recebeu o Doutor Caster efusivamente, como se fosse um velho amigo da família.
— Salve, senhor! A casa e sua, e pelo tempo que quiser ficar será bem tratado. Tudo aqui e muito parado, e uma visita vale ouro.
Minha mãe se mostrou mais reservada.
— Um rapaz muito bem informado, Lottie — comentou ela comigo. — Mas eu gostaria que ele piscasse mais os olhos. Mesmo assim, querida, a vida me ensinou uma grande lição: a aparência do homem conta muito pouco se comparada aos seus atos... Não, eu não gosto de pessoas que nunca piscam; o que e que eu posso fazer?
Com estas jóias de sabedoria original, minha mãe me beijou e me deixou entregue a meus próprios pensamentos.
Independentemente da sua figura, o Doutor Octavius Gaster revelou-se um sucesso social, com toda certeza. Já no dia seguinte ele se instalara tão confortavelmente como membro da casa que o Coronel sequer admitia cogitar de sua partida. Ele assombrava a todos com a extensão e a variedade dos seus conhecimentos. Ele era capaz de contar ao velho Coronel mais coisas sobre a Criméia do que o próprio militar sabia; ele deu informações ao marinheiro sobre o litoral do Japão e até fez engasgar ao meu atlético noivo conversando sobre o remo, discursando sobre alavancas de primeira ordem, pontos fixos e fulcros. Charley acabou vexado! Mas tudo isso era feito com tal modéstia, com tal respeito, que ninguém se sentia ofendido por ser derrotado em seu próprio terreno. Em tudo o que ele dizia e fazia notava-se uma forca tranqüila mas, ainda assim, impressionante.
Eu me lembro de um exemplo do que eu falo que deixou a todos nos deslumbrados. Trevor possuía um buldogue ferocíssimo que, apesar disso, adorava o dono e não admitia sob hipótese alguma que ninguém tomasse liberdades com ele. E fácil deduzir que o animal não gozava de grande popularidade ali; apesar disso, em consideração ao orgulho que Trevor sentia dele, tomou-se a decisão de não expulsar o cachorro, mas apenas trancafiá-lo no estábulo com bastante espaço. Desde o inicio, o bicho demonstrou uma profunda aversão ao visitante, que só de aproximar-se provocava uma ver da exibição de todas as presas quantas haviam na sua bocarra. No segundo dia, passávamos todos juntos pela porta do estábulo quando os rosnados da criatura atraíram a atenção do Doutor Caster.
Ha! E o seu cachorro, Mr. Trevor, não e?
E o Towzer sim — admitiu Trevor.
Um buldogue, se não me engano: o chamado animal nacional da Inglaterra, pelos habitantes do Continente.
Puro-sangue — acrescentou o estudante, orgulhoso.
São bichos feios, muito feios! Você se importa de ir comigo ao estábulo e desatar a corrente dele para que eu possa observá-lo melhor? E uma pena manter um animal tão forte e cheio de vida como este no cativeiro.
Ele morde — avisou Trevor, com uma expressão zombeteira nos olhos. — Mas eu imagino que você não tenha medo de cachorros.
— Medo? Não. Por que eu haveria de ter medo?
O olhar zombeteiro de Trevor se intensificou no momento em que ele abriu a porta. Ouvi Charley sussurrar algo para ele no sentido de que a gozação estava indo longe demais; poréma resposta de Trevor ficou perdida em meio aos latidos que vinham lá de dentro. O restante de nos recuou a uma distância respeitável, enquanto que Octavius Gaster permaneceu diante da porta aberta com um ar de genuína curiosidade em seu rosto pálido.
Aquilo ali, vermelho e luminoso no escuro, são os olhos dele?
São os olhos dele — disse o estudante, agachando-se e desafivelando a correia.
Venha cá! — disse Octavius Gaster.
Os latidos e rosnados do cachorro transformaram-se, de repente, num longo ganido e, ao invés de arremeter furioso contra o intruso, como todos esperavam, ele se arrastou pela palha parecendo buscar abrigo num dos cantos do estábulo.
O que esta acontecendo com ele? Que diabo de coisa e esta? — exclamou o seu dono perplexo.
Venha cá! — repetiu Gaster numa voz aguda e metálica, com um tom irresistível de comando. — Ve¬nha cá!
Para nosso assombro, o cachorro saiu de onde se encontrava e foi até o seu lado, mas nem de longe se parecia com o Towzer agressivo que conhecíamos. Era inconcebível. Suas orelhas estavam caídas, sua cauda abaixada, e de uma ponta a outra ele era a imagem perfeita da humilhação canina.
— Um belo cão, mas excessivamente tranqüilo — comentou o sueco acariciando. — Agora, seu moco, vá embora!
O animal se virou e foi mansamente para o seu can¬to. Ouvimos o barulho da sua corrente sendo afivelada, e no instante seguinte Trevor saia pela porta do estábulo com um dedo sangrando.
— Maldito cachorro! Não sei o que pode ter acontecido com ele. Towzer esta comigo ha três anos e nunca me mordeu.
Eu suponho — não posso afirmar com certeza — mas eu suponho que vi um tremor espasmódico na cicatriz do nosso visitante, o que denunciava uma intenção de rir. Rememorando os fatos, acho que foi a partir daquele momenta que comecei a sentir um medo e uma aversão indefiníveis pelo homem.
Corriam as semanas, e o dia fixado para o casamento começava a ficar próximo. Octavius Gaster continuava como hóspede de Toynby Hall e cativara o proprietário a tal ponto que qualquer menção a possibilidade de partida era recebida com risos e escárnio pelo bom soldado.
— Para cá você veio, e aqui ira ficar; ficar, com as graças de Deus!
Ao que Octavius sorria e dava de ombros, comentando em voz baixa os atrativos de Devon, o que deixava o Coronel de bom humor pelo menos Até o fim do dia.
Eu e meu noivo estávamos ocupados demais um com o outro para prestar atenção aos movimentos do viajante. Nós costumávamos encontrar com ele às vezes durante os nossos passeios pela floresta, sempre sentado e lendo em completa solidão. Ao nos ver por perto, ele invariavelmente guardava o livro no bolso. Eu me lembro de uma ocasião em que nos deparamos com ele tão subitamente que o volume ainda estava aberto a sua frente.
Ah, Gaster, estudando, como de costume! — disse Charley. — Que velha traça, que rato de biblioteca fomos hospedar! Qual e o livro? Ah, um idioma estrangeiro! Sueco?
Não, não e sueco. E árabe — esclareceu Gaster.
Não vai me dizer que você lê árabe?
Leio bem; muito bem, para ser franco.
(...)
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Mensagem por Pacheco Qua 8 Dez 2010 - 21:45

(...)
E o assunto qual e? — perguntei ao tempo em que virava as páginas do volume antigo e sebento.
Nada que possa interessar a alguém tão jovem e bonita como você, Miss Underwood — respondeu ele, olhando-me da maneira que se tornara habitual ultimamente. — Ele trata dos dias em que a mente era mais forte do que aquilo que vocês chamam de matéria; de quando viviam grandes espíritos capazes de existir sem esses nossos corpos grotescos e podiam moldar todas as coisas a sua vontade invencível.
— Ah, entendo! Uma espécie de história de fantasmas — disse Charley. — Adieu, Caster. Não queremos atrapalhar mais os seus estudos.
Deixamos o nosso hóspede sentado no pequeno vale, ainda absorvido na leitura do seu tratado místico. Deve ter sido a imaginação que me induziu a pensar tê-lo visto de relance, tentando esconder sua figura conhecida atrás de uma arvore, dali a meia hora, mais ou menos, enquanto ainda caminhávamos pela floresta. Mencionei a minha impressão a Charley, mas ele riu e debochou de mim.
Eu aludi, ha pouco, a maneira peculiar que esse Caster tinha de olhar para mim. Seus olhos pareciam perder a expressão siderúrgica que possuíam normal-mente, tornando-se suaves, eu diria quase que acariciantes, a falta de um termo apropriado. Tenho a desconfiança de que eles me influenciavam estranhamente pois, sem olhar para Caster, eu sabia dizer quando seu olhar estava voltado para mim. For diversas vezes tentei convencer-me de que esta idéia se devia a algum problema do sistema nervoso ou a minha imaginação mórbida, porémminha mãe afastou este equivoco da minha mente.
Você sabe de uma coisa engraçada? — perguntou ela assim que entrou no meu quarto certa noite, fechando cuidadosamente a porta ao passar. — Se não fosse um absurdo sem mais tamanho, Lottie, eu seria capaz de apostar que o doutor esta doido de paixão por você.
Que tolice, mamãe! — disse eu, quase deixando cair a vela de tão consternada que fiquei com a possibilidade.
— Eu não estou brincando, Lottie. E verdade — prosseguiu minha mãe. — Ele fica olhando para você embevecido, igualzinho ao seu pobre pai Nicholas olhava para mim antes de nos casarmos. E mais ou menos assim.
Minha querida mãe lançou um olhar languido e irremediavelmente triste a cabeceira da cama.
— Agora, já para o seu quarto! — ordenei. — E chega de idéias malucas. O Doutor Caster sabe tanto quanto você que eu estou noiva e de casamento marcado.
— O tempo dirá — concluiu a velha brincalhona que e a minha mãe ao fechar a porta.
Mas eu fui para a cama com aquelas palavras ainda ecoando nos ouvidos.
Não deixa de ser muito estranho que naquela mesma noite um tremor que começava a se tornar habi¬tual me sacudiu e me acordou. Fui depressa até a janela e olhei para o jardim através das laminas da veneziana, e lá estava a figura magra e vampiresca do nosso hóspede sueco de pé a entrada da casa, aparentemente observando a minha janela. Ele deve ter percebido o movimento da cortina pois, acendendo um cigarro, começou a caminhar de um lado para o outro da alameda. Reparei que durante o café da manha, no dia seguinte, ele se desdobrou em explicações sobre como não conseguira pegar no sono e só conseguira acalmar os nervos andando ao ar livre e fumando um cigarro.
Afinal, quando pude esfriar a cabeça e raciocinar com mais serenidade, admiti que a aversão que eu sentia pelo homem e a desconfiança que ele me inspirava se baseavam em coisas muito pequenas. Um homem tem o direito de ter ma aparência, de gostar de literatura exótica e até de olhar com admiração para uma jovem bonita, mesmo que noiva, sem se tornar com isso um ser anti-social. Dou estas explicações para que vejam até que ponto eu não alimentava nenhum preconceito nas minhas opiniões acerca de Octavius Caster.
— Pessoal, o que vocês acham de um piquenique hoje? — propôs o Tenente Daseby certa manha.
Maravilhoso! — exclamamos em uníssono.
Já estão comentando a partida do velho Shark para breve, e Trevor terá que retornar aos seus afazeres. Temos que aproveitar o pouco tempo que nos resta ao máximo.
O que significa piquenique? — perguntou o Dou¬tor Gaster.
É outra de nossas instituições britânicas que você precisa estudar, Gaster — disse Charley. — É a nossa versão de um fête champêtre.
Compreendo. Vai ser uma ocasião muito alegre, espero — concordou o sueco.
Podemos escolher entre meia dúzia de lugares — prosseguiu o Tenente. — Ha Lover's Leap, ou Black Tor, ou Beer Ferris Abbey.
— Este e o melhor lugar. Nada como ruínas para um piquenique.
Que seja Beer Ferris Abbey, então. Alguém ai sabe a distância exata?
Seis milhas — disse Trevor.
— Sete pela estrada — corrigiu o Coronel, com precisão militar. — Mrs. Underwood e eu ficaremos em casa, e o resto do bando que se arranje na carroça. Vocês estarão todos em boa companhia.
Não precise nem dizer que a sugestão foi aceita por unanimidade.
— Vou mandar que a carroça fique pronta para daqui a duas horas, e portanto não podemos perder um segundo. Quero salmão, salada, ovos cozidos, uísque, e muito mais. Do uísque cuido eu. O que você vai fazer, Lottie?
Eu separo a louca — disse eu.
Eu levo o peixe — disse Daseby.
E eu dos legumes — acrescentou Fan.
O que você vai fazer, Caster? — perguntou Charley.
Para falar a verdade — disse o sueco com sua voz musical e seu estranho sotaque — nada resta para mim. Mas eu posso ajudar as senhoritas a fazer o que vocês chamam de salada.
Você se tornara bem mais popular nesta nova função do que na anterior — disse eu, rindo muito.
Ah, você acha? — disse Caster virando-se rápido para mim e corando Até a raiz dos seus cabelos cor de palha. — Muito bem! Ha! Ha! Muito bem!
E com uma risada dissonante ele saiu da sala.
— Lottie — zangou meu noivo — assim você magoa o homem.
— Mas eu não tive a intenção de ferir ninguém. Se você quiser eu o procure e peço desculpas.
— Ah, esqueça, Lottie. Deixe-o para lá. Um sujeito com uma cara daquelas não tem o direito de ser tão sensível. Ele se recupera. Fique tranqüila.
Eu falava a verdade quando disse que não tive a menor intenção de ofender Caster; mesmo assim, eu me sentia triste por tê-lo incomodado. Depois que arrumei os pratos e talheres num cesto grande, fui ver o que os outros estavam fazendo; ninguém ainda terminara a sua parte. O momento me pareceu propicio para que eu me desculpasse daquele comentário impróprio; portanto, sem contar nada a ninguém, sai de mansinho e fui pelo corredor na direção do quarto do nosso hóspede. Eu devo ter caminhado muito de leve, ou talvez os grossos tapetes de Toynby Hall abafem todos os sons. O certo e que Mr. Caster não percebeu a minha chegada. Sua porta estava aberta, e quando me coloquei diante dela eu o surpreendi lá dentro com uma aparência tão estranha que me pôs petrificada de susto e medo.
Ele segurava um recorte de jornal na mão, e o que lia lhe dava muito prazer. E também na sua alegria se ocultava algum sentimento medonho, pois ele contorcia o corpo como se risse, mas não emitia som nenhum pelos lábios. Seu rosto, de lado para mim, revelava uma expressão que nunca antes eu vira num ser humano. Só posso descrevê-la como sendo de jubilo selvagem.
Assim que eu me recuperei o bastante para dar um passo a frente e anunciar a minha presença, ele atirou o pedaço de jornal sobre a mesinha com um gesto súbito e, após torcer-se em mais um espasmo convulsivo de satisfação, saiu apressado pela outra porta, que dava para o salão de bilhar e, dali, para o saguão de entrada. Ouvi seus passos até que desapareceram a distância, e espiei outra vez para dentro do quarto. O que poderia ter dado tanta alegria aquele homem sisudo? Eu imaginava alguma piada inigualável, uma obra-prima de humor.
Será que já existiu mulher cujos princípios eram fortes o suficiente para vencer a sua curiosidade? Olhando cautelosa ao meu redor para me certificar de que não havia ninguém por perto, esgueirei-me para dentro do quarto e examine! o papel que ele estivera lendo. Era o recorte de um jornal inglês e, pelo seu estado, deduzi que costumava ser muito lido e manuseado, uma vez que algumas de suas partes estavam quase ilegíveis. Entretanto, havia muito pouco motivo para risos no seu conteúdo, a menos que minha inteligência andasse embotada. O artigo dizia aproximada-mente o seguinte:
MORTE SUBITA NO CAIS — O comandante do vapor Olga, de Tromsberg, foi encontrado morto em sua cabine na tarde de quarta-feira. Ao que se sabe, o falecido era um homem violento, e tinha discussões freqüentes com o medico do barco. Naquele dia, em particular, ele se mostrara mais agressivo do que de costume, declarando em alto e bom som que o medico era necromante e adorador do demônio. Este retirou-se para o convés a fim de evitar a perseguição. Pouco depois, o imediato entrou na ca¬bine e encontrou o comandante morto sobre a mesa. A morte foi atribuída a um problema cardíaco agravado pelo temperamento explosivo do marujo. Hoje serão iniciadas as investigações.
Este era o parágrafo que o vosso estranho visitante considerava tão engraçado! Desci as escadas correndo, dominada por um misto de pasmo e repugnância. Mas eu sou uma pessoa tão bem-intencionada que a inferência sombria tantas vezes feita por mim mesma desde aquele dia nem por um instante atravessou o meu pensamento. Eu o via como um enigma curioso e repulsivo — nada mais.
Quando o reencontrei para o piquenique, todas as lembranças do meu comentário infeliz pareciam ter desaparecido para sempre da sua mente. Ele se mostrou agradável, como sempre, e sua salada foi considerada uma chef-d'oeuvre, enquanto que suas cançonetas suecas e seus contos de todos os climas e países nos emocionavam e divertiam, alternadamente. Entretanto, só depois da refeição a conversa se fixou num tema que parecia ter um sabor especial para aquele homem ousado.
Esqueço quem puxou o assunto do sobrenatural. Acho que foi Trevor, contando uma peça que pregara nos alunos de Cambridge. A historia teve um efeito sin¬gular em Octavius Caster, que sacudia seus longos braços invectivando contra os que ridicularizavam ou Putnam em duvida a existência do desconhecido.
— Eu quero que me digam — disse ele, pondo-se de pé exaltado — qual de vocês já experimentou o que chamam de instinto do fracasso. A ave selvagem tem um instinto que lhe diz em que rocha solitária do oceano sem fim ela deve colocar o seu ovo, e será que ela se decepciona? A andorinha voa para o sul quando o inverno se aproxima, e será que o instinto faz com que perca o rumo? E este instinto que nos fala de espíritos desconhecidos a nossa volta, e que pervade toda criança inculta, toda raça selvagem, pode estar equivocado? Eu respondo: nunca!
— Bis, Caster! — bradou Charley.
Respire um pouco e continue — disse o marinheiro.
Não, nunca! — repetiu o sueco, ignorando as nossas chacotas. — Se vemos que a. matéria existe separada da mente, porque não admitimos a existência da mente separada da matéria?
— Desista — disse Daseby.
Será que não temos provas? — prosseguiu Cas¬ter, com os olhos luminosos de exaltação. — Qual a pessoa que tenha lido o livro de Steinberg sobre os espíritos, ou o livro daquela americana eminente, Madame Cro¬we, e que, ainda assim, persiste na duvida? Não e verdade que Gustav von Spee encontrou seu irmão nas ruas de Estrasburgo, o mesmo irmão que se afogara três meses antes no Pacifico? Home, o espírita, não flutuou em plena luz do dia sobre os telhados de Paris? Quem nunca ouviu as vozes dos mortos ao seu redor? Eu, por mim...
Pois e; e você? — perguntamos quase todos no mesmo instante.
Ah, não interessa — disse ele, passando a mão pela testa e lutando muito para se controlar. — Este tipo de assunto e muito triste para uma ocasião de festa.
E apesar de todos os nossos esforços não conseguimos extrair nada de Caster sobre as suas próprias experiências com o sobrenatural.
Foi um dia alegre. A breve dissolução do grupo parecia fazer com que cada um desse o maximo de si para a animação geral. Ficou decidido que após a competição de tiro, já bem próxima, Jack retornaria ao navio e Tre¬vor a Universidade. Quanto a Charley e eu, iniciaríamos vida nova e seria de marido e mulher.
A competição foi um dos ternas principais do piquenique. O tiro sempre fora um hobby de Charley, e ele era Capitão da companhia Roborough de voluntaries, sediada em Devon, e da qual eram membros alguns dos melhores atiradores do condado. Os adversários seriam todos militares de Plymouth, escolhidos a dedo, e como se tratava de atiradores cuja pericia não podia ser desprezada, o resultado era considerado incerto. Charley, evidentemente, só pensava em vitoria, e cantava em prosa e verso as chances da sua equipe.
— O stand de tiro fica a uma milha de Toynby Hall — disse-me. — Você também vai assistir para me dar sorte, Lottie — sussurrou ele nos meus ouvidos. — Você sabe que vai.
Ah, meu pobre, meu perdido noivo, não foi sorte o que eu trouxe para você!
Só uma nuvem, embora escura, toldava o céu claro daquele dia feliz. Eu não conseguia mais esconder de mim mesma o fato de que as suspeitas de minha mãe estavam corretas, e que Octavius Caster me amava. Durante todo o transcorrer do passeio ele me cercou de atenções, e seus olhos dificilmente me largavam. O seu jeito de falar, inclusive, dizia muito mais do que as palavras. Se Charley percebesse eu me veria numa situação embaraçosa, pois o temperamento dele era explosivo; poréma idéia de uma tamanha traição jamais passaria pelo coração honesto de meu noivo. Só uma vez ele se surpreendeu: foi quando o sueco insistiu de todas as maneiras para me poupar o fardo de uma simples samambaia que eu levava para casa; mas a expressão de duvida logo se desfez num sorriso diante do que considerava mais uma manifestação de solicitude de Gaster. Os meus sentimentos eram de pena do estrangeiro desafortunado; eu não me acostumava a idéia de fazer alguém infeliz. Eu imaginava a tortura que seria para um espírito indomado e livre como o dele ser vitima de uma paixão que lhe ardesse no peito; de uma paixão que a honra e o orgulho jamais permitiriam que expressasse em palavras. Que inocente eu fui! Eu não contava com a vileza e a falta absoluta de princípios daquele homem; mas eu não permaneceria iludida por toda a vida.
Havia um pequeno caramanchão no final do jardim, coberto de madressilva e hera, ha longo tempo um dos recantos preferidos de mim e de Charley. Ele nos trazia lembranças muito ternas, também, pois foi ali, por ocasião de uma visita anterior, que trocamos pela primeira vez palavras apaixonadas. Depois do jantar, no dia que se seguiu ao piquenique, fui satisfeita e lépida para o nosso cantinho, como era meu costume. Ali eu esperaria até que Charley terminasse de fumar o seu charuto com os outros cavalheiros e viesse ao meu encontro. Naquele dia, em particular, ele demorou mais do que o habitual. Eu aguardava impaciente pela sua chegada, indo até a porta de vez em quando para ver se havia algum sinal da sua aproximação. Eu mal havia me sentado outra vez após uma dessas voltas nervosas e infrutíferas quando ouvi passes de homem sobre o cascalho e uma figura emergiu dos arbustos. Eu pulei de pé com o sorriso mais puro, que logo se tornou uma expressão de espanto e até de medo quando notei o rosto magro e pálido de Octavius Caster olhando para mim. Afirmo que ha¬via, em seus atos, algo que teria inspirado desconfiança a qualquer pessoa na minha situação. Ao invés de me cumprimentar, ele olhou para um lado e para o outro do jardim, como se quisesse ter certeza de que estávamos completamente sós. Em seguida, ele penetrou sorrateiro no caramanchão e sentou-se num banco posicionado de jeito que barrava o meu caminho para a porta.
— Não precisa ter medo — disse ele ao reparar a minha atitude acuada. — Medo de que? Eu vim apenas para conversar um pouco com você.
— Você viu Mr. Pillar? — perguntei, tentando me mostrar tranqüila sem conseguir.
Ha! Se eu vi o seu Charley? — respondeu ele, sublinhando a ultima palavra com um esgar. — Quer dizer que você esta ansiosa pela vinda dele? Será que ninguém mais pode falar com você exceto o Charley, pequenina?
Mr. Caster, você esta passando dos limites.
E Charley, Charley, sempre Charley! — prosseguiu o sueco, ignorando a minha interrupção. — Sim, eu vi Charley. Eu lhe disse que você o espera a beira do rio, e ele foi até lá nas asas do amor.
E por que você mentiu para ele? — interroguei, ainda me esforçando ao máximo para não perder o autocontrole.
— Apenas para ver você; apenas para falar com você. E verdade que você o ama tanto assim? Será que o sonho da glória, da riqueza, do poder sobre tudo o que a humanidade concebe, não basta para curá-la desta primeira ilusão de amor juvenil? Fuja comigo, Charlotte; tudo isto, e muito mais, será seu! Venha!
E ele estendeu seus longos braços num convite de amor. Naquele exato instante eu tive um pensamento curioso: aqueles braços eram como que tentáculos de algum inseto venenoso.
— Você me insulta! — gritei, pondo-me de pé. — Você pagara caro por se dirigir deste jeito a uma senhorita desprotegida!
E o que você diz, mas não e o que você sente! No seu coração terno ha pena pelo mais miserável dos homens. Não, você não passara. Você vai me ouvir primeiro!
Deixe-me ir!
Não. Você não ira até me dizer se existe alguma coisa capaz de me dar o seu amor!
Como você tem a ousadia de falar assim? — Eu gritava, berrava, perdendo todo o medo de tão indignada. — Você, um hóspede do meu futuro marido! Eu quero lhe dizer de uma vez por todas que antes os únicos sentimentos que me inspirava eram a repugnância e o desprezo; eles acabam de ser transformados em ódio, ódio puro!
— Ah, e verdade? — disse ele, quase engasgando e indo trôpego de costas até a entrada, com as mãos sobre a garganta como se encontrasse dificuldade para pronunciar as palavras. — Quer dizer então que o meu amor só lhe desperta ódio? Ha! — prosseguiu ele, avançando seu rosto a menos de um palmo do meu.
Encolhi-me intimidada pelos olhos vidrados daquele monstro, mas ele continuou insistindo.
Agora eu sei! E isto... e isto! — E ele socou violentamente a cicatriz que tinha no rosto. — Donzelas não sentem amor por rostos assim! Eu não tenho a pele lisa e morena, e nem os cabelos castanhos desse Char¬ley, desse estudantezinho desmiolado, desse sujeitinho grosseiro que só pensa nos seus esportes e...
Chega! Saia da minha frente! — gritei, arremetendo para a porta.
Não! Você não vai! Você não vai! — disse ele com sua voz sibilante, empurrando-me para trás.
Lutei furiosamente para escapar das suas mãos. Seus braços compridos me agarravam como barras de ferro. Eu senti que minha forca se esvaia, e estava fazendo um ultimo esforço desesperado para me desvencilhar quando alguma presença irresistível que no momento não percebi arrancou o meu perseguidor de cima de mim e o atirou de costas no cascalho. Erguendo os olhos, vi a figura imponente de Charley, bloqueando a entrada com seus ombros largos.
— Minha pobre querida! — disse ele, pegando-me nos braços. — Sente-se aqui, aqui no canto. Não ha mais perigo. Eu volto para você já.
— Não, Charley. Não. [Por favor] — murmurei quando ele se virou para me deixar.
Mas ele foi surdo aos meus apelos e saiu a passos rápidos do caramanchão. De onde ele me deixara, eu não via nem Charley nem Caster, mas todas as palavras me chegaram nítidas.
— Sem-vergonha! — bradou uma voz que mal reconheci como a do meu noivo. — Foi por isso, então, que você me colocou na pista errada?
— Foi por isso — respondeu o estrangeiro, com indiferença e cinismo.
— E este o pagamento da nossa hospitalidade, seu safado dos infernos!
E; nos gostamos muito do seu lindo refugio de verão.
Nos? Você ainda esta em minha casa, e ainda e meu hóspede, e eu não gostaria de colocar as mãos em você; mas, pelo amor de Deus... — Charley falava muito baixo, devagar, quase sem fôlego.
— Para que xingar? Qual e o problema? — perguntou a voz languida de Octavius Caster.
— Se você ousar unir o nome de Miss Underwood a suas loucuras, e insinuar que...
— Insinuar? Eu não estou insinuando nada. O que eu digo e digo abertamente, para que o mundo inteiro ouça, e que esta donzela tão casta solicitou, ela mesma...
O barulho do soco que Charley lhe desferiu foi seguido de um rogar de pés no cascalho. Eu estava amedrontada demais para me levantar, e só pude juntar as mãos e gritar em desespero.
— Cachorro! — berrou Charley. — Repita isto, e sua boca se calara por toda a eternidade!
Fez-se silêncio, e eu ouvi Caster respondendo com uma voz rouca e estranha.
— Você me bateu! Você me tirou sangue!
— E dai? Eu bato mais se você tiver a petulância de entrar de novo nesta propriedade. Não adianta olhar para mim deste jeito! Pode ter certeza que os seus truques e os seus espíritos não me assustam.
Um medo indefinível tomou conta de mim quando meu noivo disse isto. Fiquei de pé cambaleante e olhei para fora, apoiando-me na porta para não cair. Charley estava de pé, ereto e provocador, com o rosto jovem empinado no ar, como quem se orgulha da causa que o levou a batalha. Octavius Caster estava a sua frente, mordendo o lábio e estudando-o com uma expressão maldosa nos olhos cruéis. O sangue jorrava de um corte profundo no lábio inferior, manchando a sua gravata verde e a camisa branca. Ele me percebeu assim que apareci a entrada do caramanchão.
— Ha! Ha! — gritou ele, soltando uma gargalhada demoníaca. — La vem ela! A noivinha! La vem ela! Abram o caminho para a noiva! Um casal feliz, casal
feliz!
E, com outra manifestação diabólica de regozijo, ele se virou e desapareceu pulando o muro semidestruido com tanta rapidez que nos o perdemos de vista antes que entendêssemos a sua intenção.
— Oh, Charley — disse eu, assim que meu noivo voltou para junto de mim. — Você o machucou!
— Se machuquei? Quem dera! Venha, querida, você esta cansada e nervosa. Ele fez alguma coisa com você?
— Não; mas eu estou me sentindo meio tonta e enjoada.
Venha; vamos voltar para casa. Que sem-vergonha! E o pior e que planejou tudo com a maior desfaçatez. Ele me disse que havia encontrado com você na
beira do rio, e eu estava indo para lá quando encontrei Stokes, o filho do caseiro, voltando da pescaria; Stokes me disse que não havia ninguém por lá. Quando ouvi isto, mil coisas passaram pela minha cabeça ao mesmo tempo, e eu tive certeza da vilania de Gaster; por isso vim desabalado para cá.
Charley — disse eu, debruçando-me sobre o braço do meu amor.— Eu tenho medo que ele faça algum mal a você. Você viu o olhar dele antes de pular o muro?
Shhhh — fez Charley. — Esses estrangeiros tem um jeito esquisito de fuzilar a gente com os olhos quando estão irritados, mas não fazem nada.
Mesmo assim eu tenho medo dele — falei chorosa ao subirmos juntos os degraus. — Eu preferia que você não tivesse batido nele.
Eu também — respondeu Charley. — Ele e nosso convidado, apesar de toda a infâmia. Porem o que esta feito esta feito e acabou-se, como diz um personagem de "Pickwick"; a verdade e que a paciência tem limite e chega uma hora em que o sangue sobe a cabeça.
Vou comentar por alto os acontecimentos dos dias que se seguiram ao incidente do caramanchão. Para mim, pelo menos, foi um período de felicidade absoluta. Com o sumiço de Caster, eu me senti como se uma nuvem negra me tivesse deixado a alma, e a depressão que oprimia todos os moradores de Toynby Hall desapareceu completamente. Eu me tornei outra vez a menina esperta que sempre fora até a chegada do estrangeiro. Até o Coronel esqueceu-se de lamentar a sua ausência, absorvido que estava pela competição da qual seu filho participaria. Era o nosso único assunto; os cavalheiros aceitavam qualquer aposta, confiantes no sucesso da equipe de Roborough, embora ali não houvesse ninguém suficientemente tolo para aceitar o desafio e empenhar dinheiro nos adversários. Por isso Jack Daseby foi a Plymouth e "cercou" tão bem as suas apostas com alguns oficiais da Marinha que se Roborough vencesse ele daria adeus a dezessete xelins, e na eventualidade de uma vitória da equipe adversária ele passaria a vida inteira pagando dividas.
Charley e eu fizemos um acordo tácito no sentido de não mencionarmos o nome de Caster e de não aludirmos sob hipótese alguma ao que acontecera. Na manhã seguinte ao episódio do jardim, Charley mandou um criado ao quarto do sueco com instruções para colocar todos os seus pertences numa mala e deixá-los na hospedaria mais próxima. Descobriu-se, porem, que todos os objetos de Caster já haviam sido removidos, embora ninguém soubesse dizer quando e como.
Eu conheço poucos lugares mais bonitos que o estande de tiro de Roborough. O vale onde ele se situa tem mais ou menos meia milha de comprimento e é perfeitamente piano, de modo que os alvos podem ficar entre duzentas e setecentas milhas de distância, com os últimos deles parecendo ser quadradinhos brancos colados a encosta dos morros que se elevam em seu fundo. O vale, em si, e parte da grande charneca, e seus lados, aumentando pouco a pouco de altura, perdem-se depois nos extensos prados da região. Sua simetria sugeriu a mentes imaginativas que algum gigante de outras eras tivesse escavado a charneca com sua pá titânica, para depois abandoná-la desanimado com a total inutilidade do solo. Se aceitarmos este raciocínio, podemos imaginar ainda que ele tenha deixado cair uma amostra de terra na abertura do corte que fez, pois lá existe uma elevação considerável de onde se avista o vale comprido e retilíneo. Justamente sobre esta elevação fora armada a plataforma de onde os atiradores disparariam seus rifles, e para lá nos dirigimos naquela tarde trágica.
Nossos adversários chegaram antes de nos, trazendo a seu lado um numero considerável de oficiais da Marinha e do Exercito, enquanto que uma longa fila de veículos simples indicava que muitos cidadãos de Ply¬mouth tinham resolvido aproveitar a aportunidade para sair a passeio com a esposa e a família. No alto do morro fora construído um abrigo para as damas e convidados de honra, que com seus toldos e barraquinhas de comida e bebida tornavam o cenário ainda mais alegre. A população rural comparecera em massa, e apostava entusiasmaticamente seus trocados nos campeões do local, no que era correspondida com a mesma força pelos torcedores dos militares.
Charley nos guiou em segurança através de todo aquele ambiente de festa e agitação, com a ajuda de Jack e Trevor, deixando-nos, por fim, numa espécie de arquibancada rudimentar de onde podíamos observar a vontade todo o desenrolar das atividades. Em pouco tempo nossa atenção se concentrou tanto na paisagem maravilhosa que nos esquecemos por inteiro das apostas, dos empurrões e da gritaria da multidão que se formava a nossa frente. Para o sul, víamos a fumaça azulada das industrias de Plymouth subindo em círculos no ar calmo do verão, enquanto mais alem o mar se estendia até o horizonte, vasto e escuro, exceto onde as ondas petulantes o pintavam com riscos brancos de espuma, como que em rebeldia contra a imensa paz da natureza. De Eddystone a Start, a linha recortada do litoral de Devonshire se abria feito um mapa a nossa fren¬te. Eu ainda estava perdido em admiração quando a voz de Charley ressoou em meus ouvidos com uma pitada de repreensão.
— Lottie, você não parece nem um pouquinho interessada na competição!
Estou sim, querido. Mas a paisagem e tão bonita, e o mar sempre foi meu fraco... Venha; sente-se aqui e me explique a competição. Como eu posso saber se você esta ganhando ou perdendo?
Eu acabei de explicar tudo; mas eu repito para você.
— Isto; bem bonzinho.
E eu me ajeitei para prestar atenção, aprender e digerir.
— Hmm — disse Charley, pigarreando. — São dez homens de cada lado. Nos atiramos alternadamente; primeiro um da nossa equipe, depois um da outra equipe, e assim por diante. Você entende?
— Entendo sim.
— Primeiro nos atiramos a duzentas jardas, que são os alvos mais próximos ali adiante; são cinco tiros em cada alvo. Depois damos cinco tiros nos alvos a quinhentas jardas — os do meio. E terminamos atirando a setecentas jardas — aqueles lá quase na encosta da montanha. Quem fizer mais pontos vence. Esta clara, agora?
— E muito simples — disse.
— Você sabe o que e a mosca? — perguntou meu noivo.
— É um inseto, não é? — arrisquei.
Charley pareceu espantado com o tamanho da minha ignorância.
A mosca e aquilo ali: o pontinho preto no centro do alvo. Quem acerta a mosca consegue cinco pontos. Ha outro circulo, que não vemos daqui, em torno da mosca. Ele se chama "centro", e vale quatro pontos. Fora do centro, ha um novo circulo, chamado "externo", que só conta três pontos. Os assistentes sabem onde caiu o tiro porque os marcadores põem um disco colorido sobre ele.
Oh, agora eu já sei tudo, querido — exclamei entusiasmada. — Sabe o que eu vou fazer? Trouxe um caderninho e vou anotar todos os tiros; assim eu acompanho a vitoria de Roborough desde o inicio.
— Você não poderia ter uma idéia melhor! — admitiu Charley, rindo muito enquanto ia para junto da sua equipe, pois o sinal dos juízes indicara que a competição ia começar. Antes que a área de tiro fosse esvaziada, bandeiras tremularam entre a torcida dos concorrentes e gritos saudaram os seus preferidos. Vi, então, um grupo de homens de colete vermelho espalhado pela grama, a direita, e outro de cinza tomando posição a sua esquerda.
"Bang!" O primeiro tiro foi desferido, e a fumaça azulada subiu da grama. Fanny deu um gritinho, en¬quanto eu soltava uma exclamação de jubilo porque vi o disco branco ser colocado indicando "mosca", e o tiro havia sido disparado por um dos homens de Roborough. Contudo, a minha ufania foi logo interrompida pelo tiro do adversário, que registrou cinco pontos para credito dos militares. O seguinte também acertou a mosca, e foi prontamente cancelado pelo próximo. Ao final da etapa a curta distância, cada lado havia feito quarenta e nove pontos dos cinqüenta possíveis, e a questão da supremacia continuava em suspense.
Esta começando a ficar bom — disse Charley, debruçando-se sobre a amurada. — Daqui a alguns minutos vamos as quinhentas jardas.
Charley! — gritou Fanny excitadíssima. — Não erre, por favor!
E só o que eu quero — respondeu Charley animadamente.
Você fez mosca em todos os tiros — disse eu.
Fiz; mas não e tão fácil depois que somos obrigados a usar a mira. Mas vamos fazer o melhor possível, e se não ganharmos e porque eles são ótimos também. A equipe deles tem uns sujeitos incríveis na longa distância. Lottie, de um pulo até aqui.
O que houve, Charlie? — perguntei.
Ele me levou para um lugar afastado dos amigos. Pelo seu olhar, percebi logo que alguma coisa o perturbava.
E aquele sujeito! — reclamou meu noivo. — O que ele tinha que vir fazer aqui? Eu pensei que nunca mais poria os olhos nele!
Que sujeito? — perguntei assustada, com uma premonição que me ardia no peito.
O maldito sueco, Caster!
Acompanhei o olhar de Charley, e lá estava ele, sem dúvida, de pé num morrinho perto de onde os atiradores se postavam; lá estava ele, com sua figura alta e angulosa. Caster parecia desconhecer integralmente a sensação que sua aparência singular e suas feições hediondas despertavam entre os camponeses rudes que se amontoavam ao seu redor, porém esticava o pescoço para um lado e para o outro como se procurasse alguém. enquanto o observávamos, seu olhar cruzou com o nosso e pareceu-me que, mesmo aquela distância, pude detectar um espasmo de ódio e triunfo agitando a sua face lívida. Um estranho presságio me dominou, e eu prendi a mão do meu querido nas minhas.
Oh, Charley! — implorei. — Não volte, não volte para a competição. Diga que esta passando mal, invente uma desculpa qualquer e vá embora daqui!
Que tolice, menina! — disse ele, sorrindo tranqüilo diante do meu temor. — Me diga o que lhe faz tanto medo assim?
Ele! — respondi.
Não seja boba, meu bem. Quem nos ouvisse falar a respeito daquele desgraçado pensaria que ele e uma espécie de semideus. Ouça, a sineta já esta tocando. Tenho que ir.
— Pelo menos prometa que não vai ficar perto dele! — gritei, quando Charley se afastava.
— Esta bem; esta bem.
E eu tive que me contentar com esta pequena concessão.
A etapa das quinhentas jardas também foi parelha e emocionante. Roborough esteve dois pontos a frente durante boa parte, até que uma série de moscas de um dos melhores atiradores da equipe adversária virou o placar a seu favor. No final, a contagem revelou que os voluntários ficaram três pontos atrás — um resultado que foi saudado com urras e vivas do contingente de Plymouth e visto com olhares comprimidos e desconsolados dos residentes da charneca.
Durante toda esta fase da competição, Octavius Caster manteve-se absolutamente quieto e imóvel no topo do morrinho onde se postara desde o inicio. Ele me dava a idéia de não entender nada do que acontecia, pois seus olhos pareciam fitar o horizonte distraídos, e seu rosto estava virado na direção contraria a dos competidores. Em determinado momento eu o vi de perfil, e notei que seus lábios se movimentavam rapidamente, como se rezassem, ou talvez tenha sido o vapor do ar quente do verão quase indiano que me deu esta impressão. Entretanto, foi o que me ficou daqueles instantes.
E chegou a hora da etapa de longa distância que decidiria a contenda. A equipe de Roborough se lançou decidida a tarefa de recuperar o tempo perdido, enquanto que os militares não se mostravam dispostos a jogar fora a vitoria por excesso de confiança. A cada ti¬ro, a excitação da platéia aumentava, a ponto da multidão se acercar dos atiradores e vibrar intensamente a cada mosca. N6s próprios, de tão emocionados, contagiados pela animação geral, deixamos o refugio onde nos encontrávamos e nos submetemos mansamente aos empurrões e maus modos da turba a fim de podermos ver mais de perto os campeões em atividade.
Os militares chegaram a dezessete com os volunta¬ries em dezesseis, para a infelicidade do povo do lugar. As perspectivas melhoraram, contudo, quando houve um empate em vinte e quatro, e se tornaram ainda mais animadoras quando Roborough foi a trinta e dois contra trinta dos adversários. Ainda havia, entretanto, os três pontos de diferença da rodada anterior que precisavam ser compensados. Lentamente os resultados subiam, e ambas as equipes lutavam desesperadamente para conquistar a vitoria. Finalmente, um suspense gigantesco tomou conta da assistência quando se anunciou que o ultimo homem de colete vermelho já havia disparado, faltando apenas um voluntario, com os soldados na frente por quatro pontos.
Até nos, tão poucos esportistas, havíamos atingido um estado de frênesi pela natureza da crise que se apresentava diante dos nossos olhos. Se o ultimo representante da nossa cidadezinha acertasse a mosca vence-riamos a competição. A traga de prata, a glória, o dinheiro dos nossos adeptos, tudo dependia daquele único tiro.
O leitor calculara a intensidade que meu interesse alcançou quando, as custas de muito esticar o pescoço e ficar na ponta dos pés, eu vi que Charley punha calmamente uma bala no rifle, e compreendi que da habilidade do meu noivo dependia a honra de Roborough. Acho que foi isto o que me deu forças para abrir caminho em meio a multidão com um vigor que não tenho, Até chegar quase na primeira fila, com uma vista prefeita do atirador e do alvo.
Havia um camponês a minha esquerda e outro a minha direita, ambos enormes, e enquanto aguardava-mos o tiro decisivo, não pude deixar de ouvir o que conversavam, num sotaque carregado de Devon.
Que sujeito mais feio! — exclamou um.
Sem dúvida — assentiu cordialmente o outro.
Já viu os olhos dele?
Eh, Jock! E a boca do homem! Nossa! Ele ainda por cima esta espumando como o cachorro do fazendeiro Watson — aquele que morreu de hidrofobia.
Virei-me para observar o objeto desses comentários tão elogiosos e meus olhos deram com o Doutor Octavius Caster, cuja presença me passara completamente desapercebida naqueles mementos de excitação. O rosto dele estava virado para mim, porémele não me via, pois seus olhos pareciam colados com uma persistência inabalável num ponto a meio caminho entre os alvos distantes e ele próprio. Nunca vi nada que se comparasse a extraordinária concentração daquele olhar, que tinha os globos inchados e proeminentes e as pupilas contraídas além da imaginação, finas, minúsculas. O suor corria solto por sua face comprida e cadavérica, e como notara o camponês, havia sinais de espuma nos cantos de sua boca. O maxilar inferior estava rígido, como se Caster empenhasse toda a sua vontade num esforço feroz que consumisse até as energias da sua alma. Até o dia da minha morte aquela expressão medonha não fugira da minha memória e não abandonará os meus sonhos. Eu tremi e virei a cabeça na esperança vã de que talvez o campônio tivesse razão e alguma doença fosse a causa das excentricidades daquele homem repugnante.
Um grande silêncio se apossou da platéia quando Charley, com o rifle já carregado, travou a coronha e se agachou triunfante no lugar do disparo.
— Vamos lá, Mr. Charley, vamos lá! — ouvi Mcln¬tosh , o velho sargento voluntario, sussurrar de passagem. — Cabeça fria e mãos firmes, que a gente ganha ataca!
Meu noivo sorriu já deitado na grama, agradecendo o estimulo do militar grisalho, e logo se entregou a tarefa de mirar o rifle indiferente a tensão. De tanto silêncio, ouvia-se até o roçar da brisa pelas folhas da grama. Durante mais de um minuto ele se demorou fazendo mira. Todos esperavam que apertasse o gatilho, e todos os olhos estavam voltados para o alvo distante quando, subitamente, ao invés de atirar, Charley se levantou irritado, deixando a arma no chão. Para surpresa dos assistentes, seu rosto tinha uma palidez anormal, e sua testa estava molhada de suor.
— Mclntosh! — disse ele com voz estranha, sufocada. — Ha alguém entre o meu rifle e o alvo?
— Entre você e o alvo? Não, ninguém — respondeu o sargento, atônito.
La, colega, lá? — gritou Charley com energia, muito zangado, agarrando o sargento pelo braço e apontando na direção do alvo. — Você não esta vendo lá adiante, na linha de tiro?
Não ha ninguém lá! — gritou uma dúzia de vozes.
— Ninguém? Então deve ter sido a minha imaginação — disse Charley, passando a mão sobre a testa lentamente. — Eu seria capaz de jurar... Esta bem, pode me dar o rifle!
Ele tornou a se deitar e, encontrando uma posição favorável, logo alçou a arma aos olhos. Mas assim que fez pontaria, ele tornou a pular de pé gritando:
— La! Eu estou vendo alguém lá! Um homem vestido com uniforme de voluntario e muito parecido comigo — a minha imagem. Será alguma espécie de conspiração? — Prosseguiu, virando-se irritadíssimo para a platéia. — Nenhum de vocês esta vendo um homem igual a mim andando na frente daquele alvo, a menos de duzentas jardas daqui?
Se não soubesse que ele detestava a influencia feminina nesses momentos, eu teria voado para o lado de Charley. Mas ele não suportava cenas e escândalos. Só me restava ouvir em silêncio suas palavras estranhas, despropositadas.
Eu protesto! — disse um oficial, aproximando-se dele. — Este cavalheiro tem que atirar logo, ou retiraremos a nossa equipe e exigiremos a vitoria.
— Mas eu vou matá-lo! — esbravejou Charley, coitado.
Bobagem! Maluquice! Mate-o, então! — foi o coro de vozes masculinas que respondeu a sua indignação.
A verdade e que os nervos do rapaz não suportam a responsabilidade, e ele sabe disto. Ele esta tentando arranjar uma desculpa — acusou um dos militares a minha frente.
O tenentezinho idiota mal imaginou que naquele momento um punho feminino por pouco não desferiu um soco no meio do seu ouvido.
— E nisto que da beber Martell três estrelas, e nisto que da! — zombou outro. — A gente vê os demônios. Já me aconteceu, e eu reconheço estes casos com a maior facilidade agora. Vá dormir, garoto!
Este comentário foi feito longe das minhas vistas, senão o seu autor teria corrido o mesmo risco do primeiro.
— Como e? Atira ou não atira? — exigiram diversas vozes.
— Esta bem. Vou atirar — resmungou Charley. — Mas ele vai morrer! E assassinato! Assassinato a sangue-frio!
Nunca me esquecerei do olhar desolado que ele lançou a multidão.
— Eu estou mirando no peito dele, Mclntosh — murmurou Charley, deitado na grama e erguendo o rifle ao ombro pela terceira vez.
Seguiu-se um momento de suspense, um jato de chama, o estalo do rifle, e o jubilo tomou conta da charneca. Nos vilarejos circunvizinhos, as pessoas devem ter ouvido os berros de comemoração.
Grande, garoto! Grande! — exclamaram cem vozes honestas e boas de Devonshire, quando o pequeno disco branco apareceu nas mãos do marcador e escondeu a mosca escura, dando a competição por encerrada com a vitoria de Roborough.
Maravilhoso, meu rapaz! E o jovem Pillar, de Toynby Hall. Vamos carregá-lo nos ombros até sua casa. Ele e o orgulho de Roborough. Vamos lá, pessoal. Ele esta deitado na grama. Acorde! Sargento McIntosh! Qual e o problema com você? Eh? O que?
A platéia quedou paralisada, e um murmúrio soturno, incrédulo, transformou-se numa questão de segundos em gritos de pena e dor.
— Deixem a moca sozinha, pobre menina. Saiam! Deixem a moça sozinha!
Fez-se o silêncio outra vez, cortado apenas pelo choro de uma mulher e por seus gritos constantes de desespero.
Pois, leitor, o meu Charley, meu lindo, meu bravo Charley, jazia frio e morto no chão, com o rifle ainda preso aos seus dedos fechados.
Ouvi muitas palavras de simpatia. Ouvi o Tenente Daseby, partido de dor, implorar para que eu controlasse o desespero, e senti quando sua mão me retirou gentil-mente de junto do corpo do meu pobre noivo. Disto eu me lembro. O resto desapareceu da memória. Acordei numa enfermaria improvisada em Toynby Hall, quando soube que três semanas de delírio e agitação haviam transcorrido desde aquele dia terrível.
Espere! Será que não me lembro de mais nada? Acho que sim. As vezes penso que consigo relembrar um intervalo de lucidez em meio a confusão do meu período de inconsciência. Tenho uma vaga idéia de que a boa enfermeira que cuidava de mim se ausentou — e que um rosto magro, exangue, espreitava pela janela entreaberta — e que uma voz me disse:
— Eu já cuidei do seu lindo noivo, mas ainda volto para cuidar de você.
As palavras me chegaram com ecos de familiaridade, como se já tivessem estado antes em meus ouvidos, mas tudo se passou como num sonho.
— É tudo! — pode pensar o leitor — E por isso que uma mulher histérica saiu a caca de um savant atraves das colunas de jornais! Com evidencias tao parcas, ela ousa insinuar crimes monstruosos como a historia jamais conheceu!
Não posso esperar que estas coisas toquem ao leitor como tocam a mim. Só posso dizer que se houvesse uma ponte entre Octavius Caster, numa extremidade, e o tigre mais sanguinolento que já pisou na face da terra na outra extremidade, eu buscaria a proteção da fera. Para mim, a vida se acabou, e eu a maldigo. Não me interessa o que vem pela frente, mas se minhas palavras puderem manter esse homem afastado de outros lares honestos eu não terei escrito em vão.


Quinze dias após a conclusão desta narrativa, minha pobre filha desapareceu. As buscas foram infrutíferas. Um carregador da estação ferroviária depôs afirmando ter visto uma jovem que corresponde a sua descrição embarcar num vagão de primeira classe com um cavalheiro alto e magro. Entretanto, seria ridículo imaginar que ela pudesse ter fugido com alguém após tanta provação e tanto luto, ainda mais porque não tenho motivo algum para suspeitar de Outros casos amorosos. Entretanto, os detetives estão investigando a pista.

Emily Underwood
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Mensagem por Lino França Jr. Sex 10 Dez 2010 - 9:13

Ei, povo. Como anda nosso e-book natalino ??
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