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Os Rutilantes

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Poleto
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Mensagem por Victor Qua 26 Ago 2009 - 9:50

De acordo com os especialistas, existem características, digamos inatas, do conto. São elas:

1- Rápidez da ação, concetração de tempo e espaço e a exclusão de todo e qualquer incidente lateral
Neste aspecto, Os Rutilantes atendem incondicionalmente a orientação da teoria. O texto possui uma velocidade vertiginosa, o tempo e o espaço estão muito bem concentrados no local onde ocorre toda a ação, mais uma vez respeitando uma característica fundamental do conto. Não há digressões, ou seja, incidentes laterais, que desviam o foco da narrativa e se perdem em acontecimentos desnecessários. Como observado por Sergius Gonzaga, embora o conto cultive o mundo objetivo, ele procura revelar apenas um fragmento de existência. Articula-se como [b]unidade
. E, neste caso, o Luciano foi muito feliz.


2 - O conto, normalmente, se concentra em alguns instantes decisivos, em algumas horas impactantes ou, no máximo, em alguns dias, sempre dando ao leitor uma impressão de unidade (mais uma vez), rapidez e coerência.
Não é necessário ser repetitivo, uma vez que estas características corroboram as supracitadas. O conto Os Rutilantes aplica com esmero incrível tais aspectos, nos prendendo em sua unidade veloz e coerente (ops, fui repetitivo, rsrsrs)

3 - O conto transcorre, na maior parte das vezes, em um único cenário.

Talvez não tenhamos nos dado conta, mas já perceberam que os grandes da literatura fantástica sempre atendem esta característica? Lovecraft chegou a dizer que o ambiente era mais importante que a história em si. Óbvio que temos alguns mestres que fogem à esta premissa, mas são raras as vezes, e o impacto não costuma ser tão pujante. Nosso irmão Barreto seguiu esta "regra" praticamente ao pé da letra e nos angustiou, nos atormentou com um cenário tétrico e cheio de pavor absurdo.

4- No conto, o narrador deve ater-se exclusivamente ao evento central e apresentá-lo ordenadamente, sem quebra de sequência, desde o inicio até o desfecho, evitando digressões ou desvio de qualquer tipo.
Quem pode dizer que Os Rutilantes negligenciam esta inevitável característica dos contos de qualidade? Ninguem que o leu! Luciano parece se prender inexoravelmente à estas exigencias e vai direto ao ponto! O resultado? Como disse a nossa querida Ladie Tânia: "Eu tenho medo dos Rutilantes". E, eu tambem!

5- Como o enfoque do conto é apenas uma situação, ou um fato único, torna-se impossível a análise exaustiva das personagens.
Bem, em Rutilantes, as personagens são superficialmente apresentadas, como deveriam ser, centralizando nossa atenção os acontecimentos que embasam a narrativa, e o local da sua ocorrência. Mais um ponto para esta história fenomenal!

Pontos negativos?


Talvez, em meu entender, não haveria necessidade de acrescentar a cena dos policiais. Terminado na ominosa casa, com a sugestão do terror a espalhar-se em outras vizinhanças a partir dali, daria ao conto mais, ainda, densidade, "nervosidade". Mas, Luciano, meus parabéns, pois como eu disse construiste um ex da Licelente exemplar da Litfan contemporânea, um conto que chega perto da perfeição!

Bem, pessoal, aqui está. Como eu havia sugerido, vamos trabalhar todos nós um único autor, e só depois escolhemos outro colega e fazemos o mesmo? Não necessariamente, neste caso, precisamos resenhar o mesmo conto, acho, até, que seria mais proveitoso para o autor resenhado se fossem textos separados. Está aí a sugestão.


Última edição por victor meloni em Qua 26 Ago 2009 - 21:07, editado 1 vez(es)
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Mensagem por Poleto Qua 26 Ago 2009 - 11:16

Deixando os detalhes técnicos de lado (até porque, já foram muito bem analisados pelo nosso amigo Victor), eu, como leitor, gostei muito da ambientação e do clima quase insano criado pelo Barreto para este conto, principalmente neste trecho:

"Não completou a frase. Apagou a luz e silhuetas brilhantes e de cores estranhas habitavam a sala. O horror fez a mulher berrar, outra vez, histérica. Seu grito misturou-se a voz de Vilma, que tornou a cantar a lúgubre letra seguida por uma melodia apavorante a qual parecia emanar das luzes que contornavam os seres, e foi abafado depois que uma silhueta moveu-se rápido ao seu encontro. Somente um baque surdo tornou-se audível. Algo sendo quebrado. Talvez um pescoço. Sérgio engatilhou o rifle e disparou várias vezes em direção a cor que calou sua esposa. Vilma ria loucamente sobre a cadeira e gritava “Só aparecem na escuridão. Só os vemos na escuridão. Não fiquem na escuridão com eles.”. Depois que a arma do homem caiu ao chão, ele urrou de dor. Havia duas silhuetas imensas perto de dele que balançavam em movimentos decididos."

Aonde a velocidade de leitura aumenta à medida em que os eventos se sucedem.

De resto, o conto é todo certinho, e, mesmo que fuja um pouco da definição formal de conto, não deixa de ser uma boa obra (acho que o Barreto pode se dar ao luxo de quebrar algumas regras, eventualmente).

Ao contrário do Victor, não achei desnecessária a cena com os policiais, entretanto, achei um pouco inconsistente que os policiais apagassem os faróis, no meio do madrugada, ainda mais se tinham o objetivo de procurar alguém no mato. A luz dos faróis poderiam muito bem ajudar. Mas, nada que tire a grandiosidade desta obra.
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Mensagem por Lino França Jr. Qua 26 Ago 2009 - 22:31

Achei "Os Rutilantes", excelente. Este é o tipo de conto que nos transporta para dentro da história. Nos faz olhar para os lados pra termos certeza que estamos em segurança quando o lemos.
Além disso, os sinistros versos: "Eles são antigos, não são amigos, e Louvam o mal. Apague a luz e verás; são apavorantes. Eles são os rutilantes..." ...putz, são de arrepiar. Me fez lembrar das menininhas cantando e pulando corda em A Hora do Pesadelo.
Enfim, é um dos melhore contos do Sr. Barreto, e por isso mesmo o publiquei no Masmorra do Terror...hehehe
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Mensagem por Tânia Souza Sáb 29 Ago 2009 - 10:35

Os Rutilantes me assustam, primeiro por causa do escuro, este contraste entre luz e escuridão e o fato de aparecerem no escuro, segundo pela cor, passa uma impressão estranha essa luminosidade ser cruel, rompendo com o que normalmente se diz de seres iluminados, também é uma suave referência à Lovecraft, quando apresenta suas cores misteriosas, mas é uma referência suave por que este é um conto com estilo e estética próprias.


O Lino comentou algo interessante, a música é o toque de mestre, versos curtos, repetitivos, ainda com a voz da menina, tudo isso fica sugestivo e impressiona bem.

A escolha de começar a narrativa diretamente dos fatos é uma opção que pode ou não agradar, eu pessoalmente gosto de contos que ambientam, mas começar na ação dá velocidade ao conto, no caso, combinou bem. A possibilidade de continuação dos fatos no próximo anoitecer também é uma boa sacada, ou seja, muito bom esse conto.
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Mensagem por Barreto Sex 11 Set 2009 - 0:46

Amigos, quero ficar sem nenhum dedo das mãos se eu já havia lido esse tópico ontem!

Isso tem fundamento no fato de que reescrevi OS RUTILANTES ontem, especialmente para enviar ao amigo Lino para que este postasse na MASMORRA DO TERROR. E assim está sendo feito com O UNIVERSITÁRIO MAU, um conto lotado de incoerências, mas com uma boa idéia. CONTÁGIO SOBRENATURAL OBLÍQUO (que também será reescrito), OS RUTILANTES e O UNIVERSITÁRIO MAU foram obras que escrevi no início de minha "carreira" de contista! Este último será enviado a irmão Celly, para que ela poste no mundo de fantas.

E - hoje - vagando pelos controles deste fórum, deparo-me com "OS RUTILAS" na fita da MESA NEGRA.

Estou pasmo com os comentários.

Todos muito bem alinhavados! Muito sensatos e construtivos.

A dúvida do Poleto é pertinente. Por que os policiais apagam as luzes quando estão no encalço de bandidos? Eu posso explicar meu pensamento:

O fator surpresa é essencial nesse caso. E - guiados pela jovem (personagem de nome Vilma) - eles utilizam de lanternas para lograr surpreender os bandidos ou bandido (mesmo tendo reescrito, já nem lembro da pluralidade ou não dos supostos safardanas). Por tal motivo, Poleto, desligaram os faróis.

Sobre a possibilidade (aventada pelo Victor) de o final do conto ser dentro da casa, confesso que tentei levar a menina para a estrada deserta e poeirenta, a fim de demonstrar o tétrico objetivo de arregimentar outros zumbis e de causar maior medo no leitor.

Mas estou feliz pelos comentários. Foram críticas construtivas e as recebi com tranquilidade.

Eu julgo que a nova versão dos RUTILAS ficou melhor que a primeira. Quem quiser perder um tempinho pode lê-la no blog do nosso irmão Lino. Eis o link:

OS RUTILANTESl

Mais uma vez, obrigado aos irmãos Victor, Tânia, Poletoe e Lino.
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Mensagem por Flávio de Souza Qui 3 Dez 2009 - 12:51

Salve Povo do Além!

Retomemos as atividades nefastas da Mesa Negra! Contribuirei com minha singela e leiga opinião de leitor nessa obra do nosso irmão das trevas, Luciano Barreto.
Bem, de acordo com meu ponto de vista, o grande mérito de “Os Rutilantes” é lidar com uma das maiores fobias das pessoas, o medo do escuro. Não só da ausência de luz, mas aquele temor cru e legítimo do desconhecido. O que acontece ao apagar das luzes? O que se esconde nas sombras? Quem nunca teve a impressão de ter visto algo se mexer nas penumbras? Então, além disso, o texto do Luciano flerta com uma certa contrariedade quando apresenta os seres malditos emitindo, justamente, a luminosidade. Imaginem, a pessoa está no escuro, não enxerga um palmo diante do nariz, então vê um brilho, mas ao invés de encontrar conforto, se depara com um mal indescritível que nada de bom pode trazer.
Outro ponto bem positivo foi a maneira de descrever o pavor e o estarrecimento da mulher ao vislumbrar a presença maligna e ameaçadora, assim como o cinismo e a satisfação da garota, eu consegui imaginar a Dakota Fanning cantarolado os versos hediondos com um risinho no canto da boca... Tudo autêntico e convincente. Já não tive a mesma impressão com a “atuação” do pai, ele me pareceu muito calmo e controlado para alguém que está face a face com representantes do inferno, ainda que fosse intencional demonstrar uma certa frieza, a fim de não apavorar ainda mais a família, acho que ele poderia deixar escapar alguma inquietação, nem que fosse perceptível só para os leitores.
A descrição das criaturas também está muito boa, apavora só com a imagem, descartando vozes e ameaças, muito boa mesma. A soma da ação conjunta e do pavor que são capazes de proporcionar me fez lembrar dos terríveis Cenobitas do Hellraiser, no sentido bom da lembrança, eu não vi um Rutilante ( nem quero ver rsrsrsrs ), mas imagino seus contornos, e só a possibilidade de imaginar que tal criatura pudesse surgir no meio de um desses “apagões”, já é capaz de dar calafrios em qualquer um...
Quanto a famosa ação dos policias, eu gostei, me passa uma terrível sensação de continuidade: ataque na casa, domínio da jovem, lado externo, ataque ao primeiro que aparece ( no caso a polícia ), objetivo traçado ( próxima casa ), daí para o mundo, como um efeito dominó...
O único ponto discutível nessa passagem, seria o porquê da polícia estar efetuando uma ronda naquele horário, nas redondezas entre duas casas distantes 20 Km uma da outra, numa cidadezinha. Talvez fosse necessário explicar se eles estavam ali por terem recebido um aviso sobre problemas, ou por já saberem de atividades estranhas no local, algo do tipo, afinal, a polícia nunca está quando a gente precisa rsrsrsrs...
Os Rutilantes é um grande conto, não poderia ser diferente vindo de alguém como o Luciano, e consegue duas coisas muito importantes: prende o leitor e dá medo, duvido que alguém leia esse conto, na alta madrugada, sem dar uma olhadinha para trás...
Parabéns Luciano!

Um abraço,

Flávio
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